Invasão de propriedade privada, dar de caras com um cadáver, ser assaltado num local isolado. A nova coqueluche da Nintendo, a aplicação para telemóvel Pokémon Go, chegou apenas esta quarta-feira à Europa, via Alemanha, mas já é um sucesso mundial, com mais de 15 milhões de downloads e a cotação em alta na Bolsa de Valores de Tóquio.
Mas enquanto a Nintendo, nesta sua parceria com a Niantic, tem razões para celebrar a adesão em massa a este jogo de realidade aumentada, lançado na semana passada, o mesmo não se pode dizer de alguns utilizadores e de pessoas que não jogam e acabam sofrer as consequências por casa dessa realidade virtual.
Nos Estados Unidos, Boon Sheridan, residente no estado do Massachussets, vê fãs de Pokémon Go a agruparem à porta de sua casa, que está marcada como um ginásio no jogo. O homem até está encarar esta invasão com boa disposição e não tem problemas com tantos visitantes a pisarem o seu quintal. No entanto, esta invasão de propriedade privada pode vir a tornar-se problemática em muitos estados do país, uma vez que, segundo a lei, quem vê o seu terreno a ser invadido tem o direito de usar qualquer tipo de força para expulsar intrusos, incluindo armas de fogo.
Em Phoenix, no Arizona, a polícia foi alertada para o perigo de um dos locais marcados pelo jogo. Trata-se de um hotel que abriu recentemente na baixa da cidade e é também residência de cerca de 40 criminosos sexuais que estão a ser vigiados pela polícia. Numa reportagem da filiada local da Fox, os jogadores mostaram-se pouco preocupados com o perigo que corriam ao frequentarem o local, à caça de pokémons virtuais.
Mas os crimes relacionados com o jogo já começaram, com a polícia a denunciar casos em que criminosos recorrem à ferramenta de localização da app para assaltarem pessoas em locais isolados. As autoridades norte-americanas também já vieram alertar para o perigo de predadores sexuais chegarem mais facilmente às crianças que estão inscritas no jogo.
No estado do Oregon, o insólito aconteceu quando um homem a sangrar entrou numa loja de conveniência. Testemunhas relataram que o tentaram ajudar, mas o único propósito da visita dele àquele espaço comercial era capturar os pokémons que andavam por ali. Contou que foi esfaqueado, descreveu o agressor e continuo a jogar, negando as sugestões para procurar tratamento.
O jogo pode levar as pessoas a qualquer lugar nessa demanda para apanhar bonecos virtuais no ecrã do telemóvel. E no Wyoming uma jovem residente num parque de roulottes foi encontrar um cadáver perto do reservatório de água.
Locais históricos e memoriais já estão a proibir a utilização do jogo nas suas imediações. Em Auschwitz, por exemplo, a direção do Museu criticou o uso da aplicação dizendo que era “desrespeitadora em muito níveis”.
Mas esta febre parece cada vez mais global. Na Coreia do Sul há muitas pessoas que já aderiram, ainda que o governo não tenha cedido os mapas requisitados pela Google. Só que uma lacuna descoberta pelos utilizadores conduziu-os a um pequeno espaço perto da fronteira com a Coreia do Norte, considerado um sector do país de Kim Jong-un. Depressa se esgotaram os bilhetes de autocarro para a cidade de Sokcho, na província de Gangwon, e os que não conseguiram lugar no autocarro iniciaram uma romaria até à localidade para jogarem. Solidária com os jogadores, a cidade elaborou um mapa onde especifica os pontos onde é possível aceder à rede wi-fi livre.
O perigo é real e está a alastrar, mas o entusiasmo que rodeia esta caça ao tesouro dos tempos modernos parece ser ainda maior.