Está provado que ver pornografia torna uma pessoa mais religiosa. Mas e as pessoas que sempre se assumiram como religiosas e conservadoras? O que dizem da pornografia? A grande maioria repugna-a, contudo, os registos do uso da Internet nos Estados Unidos da América provam que os estados que se consideram religiosos são os que assistem a mais conteúdos sexuais online.
Cara MacInnis da Universidade de Calgary e Gordon Hodson da Universidade de Brock, ambas no Canadá, realizaram um estudo para tentar perceber como é que os religiosos reagem a estes resultados paradoxos. Para tal, pediram a 200 americanos que respondessem a um inquérito sobre a sua religião. Cerca de 42% dos inquiridos identificaram-se como católicos e os outros 48% como ateus ou agnósticos.
Quando confrontados com a informação de que os estados mais religiosos são os que vêm mais pornografia, os participantes altamente religiosos discordaram e qualificaram-na como “perturbadora”, “surpreendente” e “ameaçadora”. Além disso, acusaram o estudo de ser conduzido por investigadores politicamente motivados.
“Estes participantes responderam negativamente a estas descobertas e estavam menos dispostos a aceitá-las”, comenta MacInnis. “Isto coincide com tendência geral das pessoas rejeitarem estudos que contrariam as suas opiniões pessoais”.
Já em 2009, um estudo realizado por Benjamin Edelman da Harvard Business School chegou a uma conclusão semelhante. Os estados com mais subscrições de pornografia online são os mesmos em que a maioria dos habitantes se identificam com frases do género “Mesmo hoje os milagres realizam-se pelo poder de Deus”, “Tenho valores antiquados sobre a família e o casamento” ou “A SIDA pode ser o castigo de Deus por comportamentos sexuais imorais”.
No entanto, a história muda de cenário quando se questionam diretamente os indivíduos, em vez de analisaram os dados online. Outros estudos, que utilizaram este método, descobriram que quanto maior é o nível de religiosidade, mais baixo é o consumo de pornografia.
Há uma grande discrepância entre os dados da Internet e o relato das pessoas. Porquê?
“Não seria surpreendente que os indivíduos religiosos negassem o uso de pornografia, uma vez que isso violaria os seus valores fundamentais”, explica MacInnis. Além disso, “teorias psicanalíticas sugerem que os que protestam contra um comportamento em particular são em algum nível atraídos para esse mesmo comportamento”.
Assim, estes estudos não significam necessariamente que as pessoas religiosas não estão a ser honestos sobre os seus hábitos. “Outra razão pode explicar porque é que os dados não coincidem com o que as pessoas dizem, mas os investigadores não sabem qual pode ser”, adicionou MacInnis.
Num estudo com 252 pessoas, os investigadores tentaram perceber o que os inquiridos acham que leva outra pessoa a ver pornografia. Os participantes mais religiosos responderam que os valores morais, a raça e as condições financeiras estão mais ligados à pornografia do que a religiosidade. Também repugnaram o uso de pornografia, acusando-o de ser mais problemático do que o racismo e a violência com armas. Uma pequena percentagem de religiosos admitiu ver conteúdo sexual online, no entanto os mais religiosos dessa percentagem dizem sentir-se culpados ao fazê-lo.