Sistemas informáticos que encravam, produtividade medida em número de doentes atendidos por hora, burocracias, muitas horas de trabalho. Resultado: uma classe médica à beira da exaustão. Num estudo inédito, promovido pela Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, e revelado hoje, concluiu-se que 40,5% dos médicos está em estado de exaustão emocional. Um problema que afeta sobretudo as faxas etárias mais jovens, entre os 26 e os 35 anos.
Abrangendo 1577 profissionais, o estudo baseou-se num inquérito, online, aos profissionais, tendo como objetivo último avaliar o estado de burnout a que a classe está sujeita. O conceito é relativamente recente e pode ser descrito como o resultado de três componentes: exaustão emocional, empatia e desinteresse e ausência de realização profissional. Tem sempre origem no trabalho e afeta sobretudo médicos e professores.
“Percebemos que era um problema complexo, de grande dimensão. O estudo é um ponto de partida para o tentarmos atenuar”, avança o médico e membro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes.”Esta questão afeta o médico, os outros profissionais à sua volta, os familiares. E torna-se num ciclo vicioso”, alerta o médico.
De todos os inquiridos, 7,4% apresenta um estado de burnout elevado, o que significa que apresentam valores elevados para os três parâmetros que definem o estado (a tal exaustão emocional, a despersonalização e a não realização profissional). O problema é mais grave entre os mais novos, “atualmente sem perspectivas de progressão na carreira”, justifica Carlos Cortes, e entre as especialidades de Medicina Geral e Familiar e Medicina Interna. “Especialidades sujeitas a mais pressão, onde o problema do sistema informático, por exemplo, é mais gritante”, continua.
Vários fatores contribuem para este estado. O lidar regularmente com o sofrimento e a morte, a pressão com que trabalham, a burocracia ou o sistema informática. Mas o peso maior está por conta da carga horária excessiva: 53,2% trabalha entre 40 a 60 horas por semana, 15,9% entre 60 a 80 e 2,8% mais de 80 horas semanais.