Quando um assunto chega ao site giphy.com é porque já anda nas bocas do mundo. O “Caso McCurry”, como já foi crismado, gerou tanto burburinho que o gif com imagens “Antes e Depois” da utilização do Photoshop não tardou a surgir.
A fotografia de dois homens a serem puxados num riquexó, tirada por Steve McCurry em 1983 (um ano antes da icónica Rapariga Afegã) e publicada no seu livro Monção, foi tão retocada que o gif parece feito com dois frames de um filme.
Afinal, no riquexó não iam dois mas sim quatro homens, há gente cuja roupa muda de cor e um homem como por milagre enfiado atrás de um balcão. Só a chuva, torrencial, se mantém.
VEJA AS DIFERENÇAS:
COM

Steve McCurry
E SEM PHOTOSHOP

Steve McCurry
O escândalo anunciou-se devagarinho, em março, com o artigo Uma fotografia perfeita, de Teju Cole, crítico de fotografia do New York Times. “As suas fotografias são perfeitas e aborrecidas. E essa perfeição só se consegue alterando a imagem”, escreveu, sem mais. Uns dias depois, um fotógrafo italiano, Paolo Viglione, descobria – e anunciava, no seu blogue – vestígios do uso de Photoshop numa exposição de fotografias feitas por McCurry em Cuba.

Rasto de Photoshop numa fotografia tirada em Cuba
Steve McCurry
Bastou o pedaço de um poste de sinal de trânsito que estranhamente aparece fora de sítio para lançar o italiano no rasto de mais imagens mentirosas, que encontraria no blogue do próprio McCurry. Até há pouco tempo, estavam lá fotografias dos seus trinta anos de carreira, algumas muito diferentes daquelas que foram sendo expostas ou coligidas em livros. Agora, nem na agência Magnum, de que é um membro célebre, se encontram.

Pormenor da fotografia manipulada
Steve McCurry
As críticas não se fizeram esperar. Começando na expressão suave “manipulação de imagens”, a descoberta levou a que a lenda da fotografia em que se tornou o fotógrafo americano fosse acusado de fraude.
McCurry apressou-se a despedir um assistente, garantindo que ele próprio não sabia usar o Photoshop a esse ponto. Pouco depois, numa entrevista à revista Time, defender-se-ia, dizendo já não se ver como um fotojornalista: “Hoje, penso que sou antes de mais um ‘contador de histórias’: o meu objetivo é contar a história da minha aventura com o mundo. Já não é um trabalho de notícias, não procuro dar informações sobre um lugar, não pretendo fazer-vos compreender como é Cuba hoje, como vivem as pessoas nessa sociedade, não tenho esses constrangimentos.” Hmm… Então, e a revista National Geographic não é documental?, perguntou-se muito boa gente.
O Comité Ético da National Press Photographers Association já veio dizer que “McCurry tem a responsabilidade de seguir as normas éticas que os seus companheiros e o público em geral identificam com o fotojornalista”.
Recentemente, na inauguração de uma exposição sua, em Montreal, instado a comentar o assunto, Steve McCurry chutou para canto: “Creio que o Photoshop não pode tirar ou pôr coisas que não estão na imagem, só deve usar-se para corrigir a cor. Obviamente, toda a gente o faz.” Vamos ver se, a partir de agora, vai fazer o que diz.