A felicidade é subjetiva. Há quem a encontre na construção de uma família ou a viajar sozinho pelo mundo. Pode ter tudo o que sempre quis, mas é normal que não se sinta totalmente feliz. A neurociência explica que o ato de procurar sempre algo mais é a chave para a felicidade, mais do que a realização dos objetivos, avança o jornal digital Quartz.
Jaak Panksepp, neurocientista, argumenta que dos sete instintos básicos do cérebro humano (raiva, medo, pânico-aflição, cuidado materno, prazer/luxúria, jogar, e procurar), procurar é o mais importante. Panskepp diz que todos os mamíferos têm este sistema de procura, em que a dopamina, neurotransmissor ligado à motivação, está também envolvida em coordenar e planear atividades. Os animais são recompensados por explorar o seu meio envolvente e procurar novas informações para poderem sobreviver. Isto explica porque é que os ratos, se tiverem acesso a uma alavanca que lhes dê choques elétricos, se eletrocutam a eles mesmos repetidamente. Os ratos não têm prazer na eletrocussão, mas sim na vontade de procurar mais e mais.
Esta nova descoberta ajuda a perceber estudos que mostram que alcançar objetivos de vida, ou mesmo ganhar a lotaria, não causa mudanças a longo-termo na felicidade.
Evan Thompson, professor de Filosofia na Universidade da Colúmbia Britânica, afirma que todo o campo da filosofia pode ser visto como uma expressão deste ato de procura. Em vez de encontrar uma resposta filosófica e depois descansar, Thompson diz que muitos filosóficos diriam que a busca pela resposta é, já por si, prazerosa.
O mesmo acontece para artistas e cientistas. “Se és um artista, há sempre novas maneiras de expressão, novas coisas para criar e comunicar. O mundo não é fixo, está em constante mudança e isso significa que tens que criar novidades de acordo com a mudança”, diz Thompson. “Eu não acredito que nenhum bom cientista ache que um dia a ciência chegará ao fim. A ciência é sobre questionar, encontrar novas maneiras de olhar para as coisas, novos dispositivos. Isso não tem fim”, continua.
Por isso, não se sinta mal por não se sentir verdadeiramente feliz, é normal. É normal que queira sempre mais e mais. É normal que a lista de coisas que quer na vida não pare de aumentar.