Quando o assunto são as vacinas, os pais portugueses fazem o que o médico manda. Mesmo que tenham de desembolsar à volta de duzentos euros com um só filho. Esta é uma das conclusões que se pode tirar do trabalho de um grupo de investigadores do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), em Oeiras, que estudou o impacto da introdução da vacina PCV7 (nome comercial Prevenar), entre 2009 e 2010 – altura em que a mesma ainda não fazia parte do Plano Nacional de Vacinação (PNV). Entre as 1092 crianças que frequentavam o infantário, na zona de Oeiras, 76% estava vacinada. Uma taxa considerada elevada, tendo em conta que só para as crianças nascidas a partir de 1 de janeiro de 2015 é que a vacina contra o Streptococcus pneumoniae passou a ser gratuita.
“Portugal era o país europeu com maior cobertura vacinal, quando a vacina não estava no plano. Nos outros países, se não está no plano, os pais não dão”, adianta a coordenadora do estudo, Raquel Sá-Leão. Mesmo entre as crianças que frequentavam uma escola situada num bairro social, a proteção era de 50 por cento.
Praticamente todos nós já tivemos um ou mais contactos com aquela bactéria. Mas a sorte é que a maior parte das vezes o bicho chega, instala-se na nasofaringe – um autêntico viveiro que fica por trás do nariz – provoca umas secreções e vai-se embora. Estas invasões repetem-se ciclicamente, sobretudo em crianças que frequentam o infantário. “Até aos seis anos, 65% destas crianças tem a bactéria”, revela Raquel Sá Leão, que dirige o laboratório de Microbiologia Molecular de Patogéneos Humanos.
Em geral, o sistema imunitário consegue desfazer-se da infeção e os sintomas não passam do quase sempre presente ranho. Mas em alguns casos, sobretudo na população mais frágil em termos imunitários – crianças até aos dois anos e idosos – o pneumococo (nome na versão abreviada) provoca otites, pneumonia e a tão temida meningite. Aliás, esta bactéria é um dos principais agentes causadores de infeção, a nível mundial, e o principal culpado pela prescrição de antibióticos.
Daí que outro dos objetivos do trabalho, agora publicado na revista Vaccine, tenha sido também avaliar o impacto da vacina na prescrição destes medicamentos. Comparando com os dados que a equipa liderada pela investigadora Hermínia de Lencastre, também do ITQB, tinha vindo a recolher, desde 1996, percebe-se uma clara diminuição no seu consumo. Muito provavelmente à conta do quase desaparecimento de circulação dos serotipos de bactérias presentes na vacina – sete na altura, sendo que há 91 serotipos diferentes. Mesmo assim, o País continua a ter uma elevada taxa de utilização.
Quando passou a ser gratuita, em meados do ano passado, a vacina já cobria os 13 serotipos mais comuns. “A iniciativa de incluir esta vacina no PNV foi muito importante, já que são as populações mais carenciadas as mais suscetíveis à bactéria,” realça Raquel Sá Leão. “Temos um dos melhores programas de vacinação do Mundo”, conclui.