Imagina-se uma pessoa bem comportada e logo a encontramos ao pequeno-almoço, a beber um iogurte magro e a barrar o pão com manteiga light. Antes, já dera leite sem gordura aos filhos e mandara para a escola queijinhos da mesma estirpe. O que não conseguimos imaginar é a reação dessa mesma pessoa bem comportada, preocupada com a saúde e a silhueta, a ler o que a seguir vamos escrever.
Um estudo recente, de autores da Escola de Ciências da Nutrição da Tufts University, em Boston, publicado na Circulation, da American Heart Association, não diz para acabarmos com estes pequenos almoços baixos em gordura, mas as conclusões a que chega vão quase nesse sentido – as pessoas que mantinham o consumo mais alto de derivados lácteos inteiros tinham 46% menos de risco de desenvolver diabetes.
Outro estudo, publicado em janeiro, no The American Journal of Clinical Nutrition, observou as diferenças de peso entre aqueles que consumiam produtos lácteos gordos ou magros. Nos resultados, destaca-se que o grupo que optava pelas versões inteiras reduzia em 8% o risco de ter peso a mais.
Já em 2013, outra investigação, disponível no Scandinavian Journal of Primary Health Care, concluía que uma ingestão elevada de gorduras lácteas estava associada a um menor risco de obesidade abdominal. Sendo que o inverso também se verificava. Mas, por alguma razão, esta conclusão não teve grande eco nas tendências nutricionais. Agora, com mais estas achegas, passará a ser mais difícil negar as evidências científicas.
Porém, não vale a pena ir a correr deitar fora todos os produtos magros que estão guardados no frigorífico. É melhor perceber o que na realidade se passa. E não esquecer que a gordura continua a ser o nutriente que mais calorias aporta a uma dieta. Só que, quando lhe declaramos guerra, estamos ao mesmo tempo a estabelecer uma série de alianças que podem ser mais venenosas do que a gordura em si – uma das melhores formas de eliminá-la dos produtos alimentares é, por exemplo, acrescentar-lhes açúcar.
Dariush Mozaffarian, epidemiologista e um dos autores do estudo de Boston, resume, numa frase, as eternas incertezas da nutrição, mesmo apesar de as investigações prosseguirem: “Até hoje, não temos evidência sólida que nos permita afirmar que aqueles que preferem tomar produtos lácteos magros estão a fazer melhores escolhas do que os que os tomam gordos.” Para já, as pessoas bem comportadas vão continuar a fazer os seus pequeno almoços sem gordura à mesa.