Yukako Fukushima tem 44 anos e já pensou várias vezes procurar um trabalho diferente. Há dias em que passa muitas horas à volta de uma mesma prótese, num labor minucioso e cansativo. Mas, ultimamente, a procura da sua arte cresceu tanto que adiou a ideia de mudar de vida.
A culpa é da lei anti-crime, aprovada no Japão, nos anos 90, que deixou os gangues organizados sob constante escrutínio da polícia. O facto de recentemente ter rebentado a bolha do mercado imobiliário também não foi bom para os yakuza. E a verdade é que nunca houve tantos gangsters a quererem recomeçar a vida legalmente.
Pelo seu ateliê no centro de Osaka, que pertence à empresa Kawamura Gishi, já passaram centenas de homens a quem falta o dedo mindinho esquerdo. Amputaram-no num ritual de contrição e só conseguiram sair do submundo do crime graças às suas próteses. A falta de um dedo é um obstáculo físico, e o trabalho de Yakako é tão perfeito que o seu nome é passado boca-a-boca, sobretudo nas prisões.
Os potenciais clientes são-lhe apresentados por grupo criado pela polícia de Osaka para reabilitar antigos yakuza – essa é a sua única condição. “Preciso de uma prova de que deixaram definitivamente o seu gangue”, disse ao Guardian. “Faço isto pelos homens que querem uma segunda oportunidade e serem bons exemplos para os seus filhos.”
Yukako guarda muitas cartas de agradecimento de “homens que se casaram e tiveram filhos ou arranjaram um trabalho”. Mas também já apanhou alguns sustos. “Tive queixas de gangsters que não gostaram do aspeto do seu novo dedo, mas não ligo às ameaças, nem quando aqui vêm e começam a partir a mobília. Felizmente, não acontece com frequência e a polícia cuida de mim.”
Pensa-se que o Yubitsume (encurtar o dedo, literalmente) é um ritual que existia entre os bakuto, jogadores itinerantes do século XVIII. Quem não conseguia pagar a dívida tinha de cortar a ponta do dedo mindinho esquerdo, ficando menos capaz de manejar uma espada.
Os yakuza usam uma faca e depois embrulham o pedaço de dedo cortado, que oferecem ao chefe. Se voltarem a ofendê-lo, continuam a cortar o dedo, falange a falange, e, se for caso disso, avançam para o direito.
Um dedo mindinho feito por Yukako pode custar quase dois mil euros. É feito de silicone e imita na perfeição a impressão digital, as veias e unhas. Para melhor passar por verdadeiro, pode ter mil tons de pele diferentes.