Graham MacGregor, professor de Medicina Cardiovascular no Instituto de Medicina Preventiva Wolfson, Inglaterra, foi um dos oradores no 10º Congresso Português de Hipertensão, que está a decorrer em Vilamoura. Fundador do grupo Ação de Consenso Sobre Sal e Saúde, que há 20 anos tem pressionado a indústria alimentar a reduzir o teor de sal – um trabalho muito bem sucedido em Inglaterra – conhece bem a realidade portuguesa, e afirma: “é um país de viciados em sal”.
Portugal tem uma das mais elevadas taxas de consumo de sal. O que estamos a fazer mal?
É horrível! A comida é muito salgada.Todo o país é viciado em sal. Sempre que vou jantar fora em Portugal fico aflito, não consigo comer. Houve uma iniciativa muita meritória – a legislação que fez baixar a quantidade de sal no pão. Mas desde então [a lei entrou em vigor em agosto de 2010] nunca mais aconteceu nada. O sal faz aumentar a pressão arterial, o que eleva o risco de doença cardiovascular, aumenta o risco de cancro do estômago e também de osteoporose. É um produto tóxico, que nos vai envenenando aos poucos.
Podemos viver sem adicionar sal à comida?
Absolutamente! Não precisamos de acrescentar sal a nada. Quando apareceu, há cinco mil anos, era um produto mágico, porque permitia conservar os alimentos. Mas hoje em dia não faz falta nenhuma. Aliás, quando se inventou a congelação, baixou-se o consumo de sal e isto refletiu-se imediatamente de forma positiva nos índices de saúde das pessoas. Mas depois veio a indústria alimentar e mudou tudo outra vez. É uma tragédia que o tenhamos adicionado à comida.
No Reino Unido conseguiram uma boa parceria com a indústria. Nem foi preciso legislar…
Sim, sentámo-nos com representantes da indústria e conseguimos sensibilizá-los para a necessidade de baixar o teor de sal nos alimentos processados. Também houve uma grande colaboração da parte da imprensa. Foi uma campanha nacional. Baixámos o consumo em 1,5 gramas, per capita, ao longo de sete anos e isso representou uma poupança de 10 mil vidas por ano e 1,5 mil milhões em cuidados de saúde. Reduzir o sal devia ser a medida de promoção de saúde pública número um, porque é muito fácil de implementar. Pode ser feito gradualmente e demora apenas três a quatro semanas até que uma pessoa se habitue a consumir menos sal.
Normalmente, só nos preocupamos com o consumo de sal quando a tensão começa a atingir valores elevados. Quando devemos pensar nisso?
Desde sempre. Os seus efeitos vão-se acumulando. Além disso, as pessoas costumam pensar que a tensão só está alta a partir dos 140 de sistólica [o equivalente a 14 de máxima], que é quando se começa a tratar com medicamentos. Mas na verdade, a partir de 115 [11,5] já é considerado um valor alto. Aliás, o risco maior está nestas pessoas porque pensam que estão livres de perigo.