Não há sinais típicos de infância ou de adolescência que resistam à notícia de uma morte. Quando os alunos do 9º ano chegaram hoje à escola D. Pedro IV, em Monte Abraão, Sintra, não havia normalidade. Não havia miúdos a correr ou a brincar no recreio. Havia choro, gente a falar pelos cantos, e havia abraços. “Normalmente é uma diversão. Hoje só se via alunos a chorar e de cara trancada”, conta Gabriel, que aos 14 anos assume o lugar de porta-voz dos colegas do 9º ano. A notícia começara a circular na véspera, ao início da noite: Joelma não resistira. A aluna do 6º A, com 11 anos, morreu esta quinta-feira no Hospital de Santa Maria – para onde foi reencaminhada na segunda-feira, depois de no primeiro intervalo da tarde (entre as 15 e as 15h15) ter entrado em paragem cardio-respiratória. Quem assistiu à cena na sala de convívio gravou a imagem da melhor amiga, em choque, a olhar para Joelma no chão, depois de na sequência de uma brincadeira ter escorregado, batido nuns cacifos e caído no chão inconsciente.
Há pouco tempo, recorda à VISÃO um funcionário que não quis ser identificado, Juelma teria desmaiado no pavilhão, a meio de uma aula de educação física. Ninguém soube confirmar se já haveria um problema de saúde identificado.
Quase todos souberam da notícia ainda na quinta-feira. Mas Maria (nome fictício), só quando hoje passou à entrada da escola percebeu que a criança que na segunda tinha ido para o hospital era Joelma. “Era como se fosse minha filha”, gritou, antes de o choro lhe engolir todas as palavras.
Em sinal de luto, as bandeiras da escola foram içadas a meia haste e fizeram-se minutos de silêncio nas salas de aula. A escola inteira ficou em choque. Em choque com a morte e indignada com as notícias sobre ela. “Ó avó, ninguém lhe bateu. Ela escorregou!”, corrigiu de imediato Joana, à saída das aulas do 5º ano. “Disseram que a miúda foi agredida. Eu estava lá e vi, isso é mentira”, diz mais à frente uma adolescente que nos últimos dias não terá feito outra coisa senão “corrigir mentiras”. “Ouço gente a dizer que a amiga lhe bateu, a atirou contra os cacifos. Não é verdade. Era a melhor amiga dela!” Hoje batem-se por defender a verdade e também a imagem de uma escola onde dizem não haver historial de conflitos. “Mesmo as confusões normais da nossa idade, há sempre alguém em cima para separar”, contam em coro.
Joaquim Santos, comandante dos Bombeiros Voluntários de Queluz, garante que a equipa que acorreu ao local não foi confrontada com suspeitas de agressões nem se deparou com sinais de violência, razão pela qual a PSP não foi chamada ao local. Quando chegaram, exactamente cinco minutos depois do telefonema (o quartel fica a 3 quilómetros da escola de Monte Abraão), uma professora tentava já reanimar Joelma. Pouco depois dos bombeiros, chegou uma Viatura Médica de Emergência (VMER). Joaquim Santos, que socorreu a criança, diz ser impossível, na altura, determinar as possibilidades de sobrevivência. A profissão foi-lhe ensinando que nada, entre a vida e a morte, é linear. “Uma menina de 15 meses caiu de um andar em Monte Abraão. Quando chegámos vimos que tinha terra nos olhos, e que não os mexia. Todos achavam que não tinha sobrevivido. Dois meses depois teve alta”, recorda.
Nem o diretor do agrupamento nem qualquer outro responsável da escola esteve disponível para prestar esclarecimentos à VISÃO sobre o momento em que Joelma entrou em paragem cardio-respiratória. A reacção do estabelecimento de ensino surgiu hoje à tarde através de um comunicado em que relata uma morte “na sequência de um acontecimento repentino ocorrido na escola, durante o primeiro intervalo da tarde de segunda-feira”. Juelma é descrita como “uma criança doce, simpática, boa colega, divertida e feliz”, uma “aluna responsável, empenhada e bem-comportada”. “A melhor homenagem que podemos fazer à Juelma”, escreveu a direcção, “é não a esquecer”.
A turma e a família estão a ser acompanhados pelos órgãos da escola e pela psicóloga do agrupamento.