VISÃO: Sabe-se que o vírus apareceu no Brasil depois do Campeonato do Mundo de Futebol. Como é que isso acontece?
Vítor Laerte Pinto Júnior: Sabemos até que foi na região de Pernambuco, no nordeste. O que aconteceu foi que alguém vindo de uma região onde havia infeção, e que era portador da doença, foi picado no Brasil por um mosquito, o Aedes, que é transmissor da doença, e o passou para outra pessoa.
Então é possível que o vírus chegue a Portugal?
Não, não há mosquito Aedes em Portugal.
Na Madeira há…
Sim, verdade, na Madeira há. Se alguém infetado chegar à Madeira e for picado lá por esse mosquito poderá disseminar o virus, sim. Aliás, foi o que aconteceu em Cabo Verde.
E há pelo menos um relato de transmissão por via sexual. Não devemos também recear isso?
Foi verificado que alguém libertou o vírus no esperma e verificou-se que sobrevive dez vezes mais tempo em outras secreções, como a urina. Daí a recomendação de usar preservativo, sempre que haja risco de transmissão de doença por via sexual, mas para esta ou outra qualquer. Não sabemos sequer ao certo quantos casos existem porque ainda não há teste diagnóstico. Penso que devemos estar atentos.
Está confirmada a ligação entre os casos de miocrocefalia e este vírus?
No Brasil, tinhamos cerca de 200 casos por ano de bebés nascidos com microcefalia. No ano passado, o número disparou para os 4 mil. Há ainda outras evidências: a presença do vírus na placenta e no líquido amniótico. Não há certeza, certeza, mas diante destes factos, temos de trabalhar com a hipótese.
Corre já pelas redes sociais a teoria de que a libertação de mosquitos geneticamente modificados para combater a dengue na zona da Baía poderá está associada ao início surto. Isto faz algum sentido?
É muito pouco provável, para não dizer impossivel. O Zika já tinha provocado epidemias em outras zonas do mundo – na Ásia, por exemplo – onde não havia nenhum mosquito geneticamente modificado. Além disso, sabemos já que é a fêmea que transmite o vírus, e foi no macho que se fez a modificação genética, fazendo com que não dure muito tempo para não conseguir fecundar a fêmea, controlando assim o surgimento de novos mosquitos. É até improvável que esse mosquito transgénico consiga sequer chegar a outros estados do Brasil. Não sobrevive ao tempo da viagem.
Para a semana, a Organização Mundial de Saúde agendou uma reunião do conselho de emergência. O que pode vir aí?
Sabemos que esse conselho se debruça o regulamento sanitário internacional, versando viagens de pessoas e mercadorias. É possivel que surjam embargos e outras restrições nesse capítulo.