Quando a Delta Airlines lhe perdeu o passaporte num voo de São Francisco para Los Angeles, Francisco Ferreira, 21 anos, não desesperou: bastava ligar ao consulado português da segunda maior cidade americana e pedir um novo documento. Nada mais simples, iludiu-se. O aluno da University of South California espreitou o Portal das Comunidades (na alçada do Ministério dos Negócios Estrangeiros, MNE), e anotou um número de telefone, um endereço de email e uma morada. Mas o primeiro dava sempre sinal de ocupado, e do segundo não obtinha resposta. Francisco não viu alternativa que não alugar um carro e ir ao consulado. “Era um prédio de habitação e o apartamento em causa estava abandonado. Os vizinhos contaram-me que não vivia lá ninguém há dois anos.” O estudante consultou então o Google, que lhe deu uma morada completamente diferente, do outro lado da cidade. Lá chegado, nova surpresa. “Todo o quarteirão estava ainda a ser construído. O edifício onde supostamente era o consulado ainda só tinha as fundações.”
Apanhado no limbo de um consulado perdido – entre o apartamento abandonado e o prédio em construção, entre o que já deixou de ser e o que ainda não é –, Francisco contactou os serviços do MNE. “Disseram-me que me devia ter enganado na morada, que os dados no portal estavam todos bem.” Quando se preparava para uma viagem de 600 quilómetros até ao Consulado Geral de São Francisco (de onde também ninguém atendia o telefone), única forma de ter o passaporte a tempo da viagem antes do Natal para Lisboa, o estudante foi salvo pela companhia aérea: tinham encontrado o documento. Entretanto, quase um mês após o início da história, contactaram-no do Portal das Comunidades para lhe confirmarem o que Francisco já desconfiava – não havia cônsul. “Afinal, morrera há dois anos e esqueceram-se de atualizar os arquivos.” Não que fosse informação importante.
A propósito, um novo cônsul entrará em funções no próximo ano. Aparentemente, só falta acabar de construir o prédio.
Texto: Luís Ribeiro