Ruth Bettelheim, psicoterapeuta e colaboradora do Huffington Post, publicou esta semana uma análise ao filme que conta a história de Riley, uma menina de 11 anos. Emoções como a alegria, o medo, a raiva, a repulsa ou a tristeza ganham vida e vigiam a vida de Riley a partir do seu cérebro.
Para a especialista, o cérebro é, de facto, um elemento vital na maneira como vivenciamos a nossas emoções, mas não é o único. Ao colocar as nossas emoções apenas no cérebro, o filme neglicencia, defende, a nossa melhor fonte de informação e comunicação: o corpo.
Temos maior tendência para ficar zangados quando temos fome ou estamos cansados. Quando estamos aborrecidos conseguimos senti-lo pelo corpo todo, desde o coração acelerado aos nossos músculos contraídos. Ruth Bettelheim critica assim que as emoções da Riley pareçam não ter qualquer conexão às sensações do corpo. “Nós não nos engasgamos só porque a tristeza no nosso cérebro diz para o fazermos. O aperto na garganta, a torrente de lágrimas são tristeza. Quando damos uma gargalhada ou sorrimos, o nosso corpo sente alegria. As emoções são criadas através da interação do nosso cérebro com o nosso corpo, num feedback contínuo”, explica.
No artigo, a psicoterapeuta recorda ainda que a autora do livro “Beyond the Brain: How Body and Environment Shape Animals and Human Minds” (Para além do cérebro: como o corpo e o ambiente formam a mente dos animais e do Homem, em português), Louise Barret, disponibilizou, numa entrevista, outra pista sobre o tema: um computador consegue ganhar a um campeão de xadrez, mas o melhor dos robôs não consegue vencer os humanos numa ida ao frigorifico, abrir a porta e tirar uma lata de refrigerante.
“A nossa capacidade de conseguir compreender e responder ao nosso ambiente físico e social demorou milhões de anos a desenvolver-se e ainda tem de ser replicada de forma artificial”, conclui.
Durante a entrevista, Barret vincou que a razão pela qual a conversa estava a correr tão bem, era simplesmente porque a sincronização corporal decorria na perfeição, fazendo com que dois estranhos se entendessem tão bem.
A importância da sincronização corporal é igualmente visível no filme Divertida-Mente. Numa cena no início do filme, em que a família está na mesa a jantar, o corpo de cada um dos elementos da família mostra que eles não estão em sintonia uns com os outros: A mãe da Riley está sentada direita com um sorriso forçado. O pai está inclinado para trás e com uma expressão vazia no rosto. Riley evita contacto visual com os pais. Os gestos não espelham ou respondem aos reflexos dos outros e a interação vai de mal a pior porque falham continuamente a interpretação do que cada um está a sentir e estão concentrados nos próprios pensamentos. E não é o que vivemos todos os dias no trabalho escritórios ou em casa?
Se sincronizarmos o nosso corpo e os nossos gestos com os dos outros vamos ter interações sociais mais satisfatórias, explica Ruth Bettelheim. A empatia melhora-se através da atenção que se dá à linguagem corporal, o que a leva a aconselhar que as conversas mais importantes devam mesmo ser todas presencialmente.