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A equação é complicada, mas o resultado é simples: nenhuma via dá tanto prazer de condução como estes 27 quilómetros no Norte de Portugal. Depois de muitos cálculos, os especialistas concluíram que o traçado da Estrada Nacional 222, entre a Régua e o Pinhão – um percurso ao longo da margem esquerda do Douro – é o que mais se aproxima do modelo ideal para conduzir. Desenvolvido a pedido de uma empresa de rent-a-car, o Avis Driving Ratio (ADR, ou Índice de Condução Avis, em português) foi concebido “não só para encontrar a melhor estrada para conduzir mas também de forma a identificar as componentes que constituem uma estrada perfeita”, explica Mark Hadley, responsável pelo estudo e especialista em relatividade geral e teoria quântica.
O professor universitário britânico garante que o índice foi “fortemente testado” e incluiu um dia no circuito de velocidade de Rockingham, em Inglaterra, na companhia de Hermann Tilke, desenhador de pistas de F1, e ainda uma viagem ao parque de diversões de Alton Towes, com John Wardley, autor de montanhas-russas. Ao contrário do que se poderia supor, a fórmula não foi feita para se adaptar às estradas, mas antes desenvolvida com base teórica e depois testada em cada um dos traçados. Neste caso, as 25 estradas espalhadas pelo mundo e que já eram referidas por muitos pilotos de velocidade como as melhores para conduzir.
À vista do fruto preferido
A VISÃO fez o teste ao lado de Joffrey Didier, um jovem instrutor francês de eventos automóveis da escola First Driver, ao volante de um Mercedes E350, e confirma a sensação. Sempre dentro dos limites de velocidade impostos pela sinalização, onde só a espaços é possível atingir os 90 quilómetros por hora, Joffrey (que desconhecia o traçado, apesar de viver em Portugal há 18 anos) garante que “a estrada é realmente fantástica para uma condução divertida e desportiva”. E a paisagem de socalcos, traçada pelas mãos do Homem, em pleno coração do Alto Douro vinhateiro, Património Mundial da UNESCO, ajuda, claro, ao relaxamento. Com um total de 93 curvas, distribuídas ao longo de 27 quilómetros, não falta sequer uma ligeira sensação de montanha-russa, com uma sequência de subidas e descidas curtas já depois da passagem da foz do Távora, e na aproximação à vila do Pinhão.
Tendo em conta quatro fases-chave na condução – curvas, aceleração, retas e travagem -, e partindo do princípio que a condução depende do equilíbrio entre estas etapas para melhor usufruir da paisagem envolvente, foi estabelecido que o ADR (o tal índice de condução) perfeito era de 10:1, ou seja, dez segundos em linha reta para cada segundo gasto numa curva. E é aqui, precisamente, que o traçado entre o Peso da Régua e o Pinhão, dá cartas, com um índice de 11:3, fazendo deste pedaço de estrada o que mais se aproxima do ideal.
Embora com base científica, também para o físico quântico se tornou evidente que as emoções e paisagens circundantes são fatores essenciais na construção da estrada. “O que o condutor sente e vê à sua frente foram fatores tidos em conta nos cálculos finais para o índice ADR”, diz Mark Hadley. Já o Douro, esse, pode não perceber nada de fórmulas matemáticas, mas oferece emoções e paisagens de cortar o fôlego a quem corta o vento junto às suas margens. Já para não referir também a generosidade do vale na hora de produzir um dos melhores néctares dos deuses. Mas, como o assunto é condução, deixemos isso para outra altura.
O pódio do asfalto
Entre as 25 estradas mapeadas pelos criadores da fórmula estão traçados em países como os EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Áustria, Itália, Suíça, Espanha, Roménia, Noruega, Austrália, Nova Zelândia, Argentina e Japão. Logo após a EN 222, ficaram a Big Sur (Califórnia, EUA) e a Bad Urach (Hohenzollern, Alemanha), ambas com um ADR de 8:5, e a A535 (centro de Inglaterra), com 8:4.