Ficava “pateta”, sentia dores de estômago e de cabeça. Ao longo de um ano inteiro, vomitava ao acordar de manhã. “Algumas vezes vinha ao longo de uns dias, outras vez era só “pimba! Estou bêbado'”. O caso do britânico Nick Hess, contado pela BBC, é um exemplo da rara síndrome de “auto-cervejaria”, uma super-produção de leveduras no intestino que transforma os hidratos de carbono consumidos em álcool no sangue. E, assim, Nick ficava alcoolizado sem beber nada, embora isso fosse difícil de acreditar para alguns amigos e familiares. A mulher, por exemplo, um dia revistou a casa de alto a baixo à procura de garrafas escondidas.
A síndrome foi abordada cientificamente pela primeira vez nos anos 70, quando um grupo de investigadores japoneses descreveu uma “particularidade misteriosa” nos doentes com infeções fúngicas crónicas por leveduras: todos tinham uma enzima anormal no fígado que não lhes permitia eliminar o álcool do organismo.
As leveduras estão presentes nos intestinos de todos os indivíduos saudáveis e, quando interagem com os hidratos de carbono e açúcar dos alimentos, produzem minúsculas quantidades de álcool. No caso dos doentes analisados no Japão, as leveduras extra, combinadas com a alimentação rica em hidratos de carbono (provenientes do arroz) e com a enzima anormal levavam a que não conseguissem processar o álcool com a rapidez necessária.
O estudo foi retomado recentemente pela investigadora Barbara Cordell, do Panola College, no Texas, EUA, e seria essa informação encontrada pela mulher de Nick Hess a modificar-lhe a vida. Submetido a vários testes, os médicos encontraram no intestino de Hess 400% mais leveduras do que o normal.
Ao contrário do que se verificou no Japão, raramente os mais de 50 pacientes analisados, entretanto, por Barbara Cordell evidenciam a presença da tal enzima, o que leva a investigadora a acreditar que o problema reside mesmo nos níveis de levedura fora de controlo.
A investigadora realça que, frequentemente, os que sofrem desta síndrome relatam o início dos sintomas depois de um período prolongado de uso de antibióticos – é provável que ao “limpar” as bactérias durante muito tempo, este tipo de medicamentos forneça às leveduras a oportunidade ideal para se instalarem. Segundo a BBC, Cordell só não conseguiu ainda perceber por que razão o problema não é, nesse caso, mais frequente.