Na quinta-feira passada, Kent Brantly, médico norte-americano em missão na Libéria, pensou que ia morrer. Já há nove dias que estava a sofrer os efeitos da infeção com o Ébola e a sua convicção de que o vírus levaria a melhor era tal que ligou à mulher para se despedir, conforme relata a CNN.
Tanto Brantly como Nancy Writebol, também missionária norte-americana, receberam tratamento com um fármaco altamente experimental, que parece ter revertido a infeção.
Brantly chegou no sábado aos Estados Unidos, enquanto que o avião com a segunda vítima norte-americana infetada parte esta terça-feira da Libéria com destino a Atlanta. O avião, com uma sala de isolamento necessária para o transporte só tem capacidade para uma pessoa, por isso teve de regressar à Libéria para transportar Writebol depois de deixar Brantly no Hospital da Universidade Emory de Atlanta.
Foi no dia 22 que o médico acordou a sentir-se febril. Temendo o Ébola, isolou-se imediamente. O mesmo aconteceu à missionária, três dias depois. Um teste rápido de sangue confirmou a infeção nos dois norte-americanos que apresentavam sintomas como febre, vómitos e diarreia.
O medicamento experimental, conhecido como ZMapp, foi desenvolvido por uma companhia de biotecnologia norte-americana, que ainda não tinha realizado qualquer experiência com a sua administração em humanos. Apenas quatro macacos infetados com o Ébola sobreviveram depois de terem recebido o tratamento, 24 horas depois da infeção. Dois outros sobreviveram graças ao mesmo tratamento, mas administrado 48 horas depois da infeção. Um outro, que não foi tratado morreu ao quinto dia.
Criado a partir dos anticorpos de ratos infetados com o Ébola, o ZMapp impede que o vírus penetre e infete novas células.
Tanto Brantly como Writebol estavam conscientes do caráter experimental do medicamento, que lhes foi administrado ainda na Libéria na quinta-feira de manhã, segundo fontes ligadas ao tratamento dos dois missionários.
Um dos médicos descreve a recuperação de Brantly, cuja condição se deteriou drasticamente nos momentos anteriores à administração do ZMapp, como “milagrosa”. Numa hora, o médico, que já estava a ter sérias dificuldades respiratórias, passou a respirar melhor e na manhã seguinte até tomou banho sozinho, antes de ser evacuado para os Estados Unidos.