Momentos antes de entrarmos na sala do hotel, onde estavam Robin Williams, 60 anos, a sua filha Zelda, 21, e a entourage que os rodeava, ouviam-se os gritos, os risos, as gargalhadas e as vozes estranhas que o ator soltava, durante a entrevista anterior à nossa. Estivemos 20 minutos com o protagonista de Bom Dia Vietname, Clube dos Poetas Mortos, O Rei Pescador, entre tantos outros filmes, e com a jovem atriz, cujo nome o pai e a mãe foram buscar a um dos seus videojogos preferidos – The Legend of Zelda -, por sugestão do filho mais velho, Zack.
A dupla de Hollywood preferida dos japoneses da Nintendo está a promover o novo episódio daquela saga digital, Zelda Skyward Sword, e falou à VISÃO.
Não lhe vou pedir para nos contar a história de como escolheu o nome para a sua filha…
Mas posso voltar a contá-la, se quiser…
Gostava mais de saber quantas vezes já a contou.
Hoje? Umas dez, pelo menos… Não é muito. Se quiser, podemos contá-la outra vez.
Zelda, ainda não se cansou de ouvir a história do seu nome?
Não! É a minha história, é parte daquilo que sou.
Robin, os seus papéis ou são extremamente divertidos ou intensamente dramáticos. Em qual dos opostos se sente melhor, hoje?
Gosto de ambos. Mas talvez goste mais de personagens densas, com algo de tenebroso, como em Câmara Indiscreta [2002] ou O Melhor Pai do Mundo [2009]. Quando se interpreta personagens daquele tipo, libertamo-nos e podemos explorar comportamentos que, na vida real, dão direito a cadeia. Embora não tenhamos aqueles comportamentos, a verdade é que os correspondentes pensamentos existem, estão lá.
Zelda também é atriz. O que gosta mais de representar?
Prefiro personagens que estejam fora das minhas experiências. Talvez um dia consiga entrar em filmes de fantasia épica. A razão pela qual me tornei atriz não foram os filmes mas, antes, os livros de que gostei em criança. E gostei tanto que quis que se tornassem realidade. Procuro algo que me dê um vislumbre de uma vida que nunca vou viver. É isso que me fascina.
Algum livro em particular?
Vários, como a trilogia Sabriel, Lirael e Abhorsen, de Garth Nix. É, basicamente, O Senhor dos Anéis, mas com um herói feminino. Gosto muito dos livros do Christopher Moore e do Neil Gaiman, que criou personagens femininas fantásticas.
É assim consigo, também, Robin?
Cresci a ler imensa ficção científica e eu e ela somos fãs de anime [desenhos animados japoneses]. Tudo o que tenha a ver com estes universos fascina-me.
Cinema, Broadway e stand up comedy são territórios onde se move com à-vontade. O que lhe dá mais prazer, hoje?
Por ordem: stand up, cinema, Broadway. Esta última foi uma experiência única, durou apenas cinco meses, mas gostei imenso. Temos de estar concentradíssimos, não há segundas hipóteses, como no cinema. É duro…
Ganhou o Oscar de melhor ator secundário, em O Bom Rebelde. Teria preferido ser distinguido pelo seu trabalho noutro filme?
Não. Estou muito feliz por ter acontecido como aconteceu. Foi uma dádiva. Ganhar foi fantástico.
Como foi contracenar com a sua filha, quando ela se estreou no cinema, aos 14 anos, no filme House of D?
Fiquei tão orgulhoso… No primeiro dia ela estava a trabalhar e o David Duchovny disse-lhe: “Julgo que a tua personagem…”
[Zelda interrompe]
… até parece que eu não oiço os meus realizadores…
… nada disso. Tu foste muito doce e disseste que preferias fazê-lo à tua maneira e, no final, estavas correta.
Na verdade, tentámos as duas formas…
… mas, no final, percebeu-se que o teu instinto estava certo.
Não gosto de gastar película, nem dinheiro nem tempo, mas há alturas em que pode ser interessante experimentar algo diferente.