Simone Ferreira, de 21 anos, que se encontra em prisão domiciliária, confirmou que no dia 14 de Junho do ano passado raptou um bebé recém-nascido após ter entrado no hospital fazendo-se passar por enfermeira.
A arguida, que está acusada de sequestro agravado, um crime com uma moldura penal de dois a dez anos de prisão, disse ao colectivo de juízes que durante nove meses se fez passar por grávida junto da família e do companheiro, Márcio, com quem vivia em Felgueiras.
Simone Ferreira disse que não conseguia engravidar, confirmando que foi seguida na consulta de fertilidade no Hospital Padre Américo durante vários meses.
A arguida explicou ainda ao tribunal que justificava o não crescimento da barriga, junto dos familiares, com a existência de quistos, mas que não eram impeditivos para ter a criança.
Afirmou também que durante os nove meses adoptou os hábitos de uma mulher grávida, nomeadamente a compra de roupa de bebé e biberões.
Simone Ferreira disse que só decidiu raptar a criança um dia antes de o concretizar, confessando que fizera uma primeira tentativa no dia 13.
“Não tive coragem”, afirmou ao colectivo.
A arguida confirmou que no dia em que raptou o recém-nascido entrou no hospital pela urgência de pediatria, subindo ao sexto piso, onde se localizava a maternidade. Nesse percurso vestiu uma bata branca com a qual se fez passar por enfermeira.
Simone disse que entrou na primeira enfermaria que encontrou, dizendo a uma mãe que ia levar o seu filho para a realização de exames.
A arguida deixou o hospital e seguiu em direcção a Felgueiras, no automóvel do seu ex-namorado Sandro, co-arguido neste processo, acusado de colaboração no rapto.
Já em Felgueiras, contactou telefonicamente o companheiro, dizendo-lhe que já tivera a criança e que estava na hora de a ir buscar. Seguiram ambos para Lousada, a casa dos pais do companheiro, onde algumas horas depois vieram a ser detidos pela PJ do Porto.
Simone garantiu que o arguido Sandro nunca soube que o bebé tinha sido raptado. “Pedi-lhe apenas que me levasse ao hospital para ir buscar o meu bebé, que nascera há 15 dias, e que ficara lá a fazer exames”, disse.
O arguido Sandro não quis prestar declarações, o mesmo acontecendo com o companheiro de Simone à data dos factos, Márcio.
Os dois inspectores da Polícia Judiciária (PJ), testemunhas no processo, confirmaram os factos que constam dos autos.
O inspector da PJ Luís Rocha, questionado pelo procurador do Ministério Público, disse não ter elementos que apontem para o facto de o arguido Márcio saber que o recém-nascido fora raptado.
A defesa de Simone prescindiu da audição das suas testemunhas.
A audiência foi suspensa pelo tribunal, devendo prosseguir dia 22 de Abril.
A presidente do colectivo justificou o adiamento com o facto de não terem sido juntos aos autos os relatórios sociais dos arguidos, elemento considerado essencial para se determinar a indemnização cível pedida pela família da criança.