Numa nota colocada no site da diocese, a propósito das declarações do Papa Bento XVI em África, D.Ilídio Leandro escreveu que, “quando a pessoa infectada não prescinde das relações e induz o(a) parceiro(a) (conhecedor ou não da doença) à relação, há obrigação moral de se prevenir e de não provocar a doença na outra pessoa”, considerando que, neste caso, “o preservativo não somente é aconselhável como poderá ser eticamente obrigatório”.
Segunda-feira, à entrada para um debate promovido pela Assembleia Municipal de Viseu sobre a violência doméstica, o bispo escusou-se a comentar a polémica e desvalorizou o facto de a sua posição já ter chegado ao Vaticano.
Citado pelo Diário de Notícias, o director da sala de imprensa do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou, sobre o texto do bispo de Viseu, que “o assunto é muito delicado, pelo que os comentários terão de ser feitos pelas autoridades competentes, de um modo mais correcto, e na sede apropriada”.
“O Vaticano está muito interessado é em mim, porque naturalmente somos uma família, como vocês todos. Agora que o Vaticano esteja interessado em me pôr uma multa…”, afirmou D. Ilídio Leandro. “O que eu escrevi está legível, está disponível e, portanto, não tenho outra coisa a acrescentar àquilo que escrevi”, sublinhou.
Durante o debate sobre violência doméstica e ao falar da necessidade do acesso das mulheres aos meios anticoncepcionais e ao planeamento familiar, Carlos Alberto Vieira, da associação Olho Vivo, saudou o bispo de Viseu pelo “passo em frente que deu”. Lembrou que já o falecido bispo de Viseu D. António Monteiro tinha defendido “o uso do preservativo como mal menor entre dois males em caso de risco de sida” e destacou também a coragem do “bispo Torgal Ferreira quando disse que proibir o preservativo é condenar muita gente à morte” e a posição do coordenador nacional da Pastoral da Saúde, Vítor Feytor Pinto, sobre o acesso à educação sexual.
Neste âmbito, e considerando que “o ponto de partida está na Idade Média”, Carlos Vieira questionou “se não serão ainda precisos muitos passos em frente para acompanhar a realidade”.
Em resposta, Ilídio Leandro disse respeitar muito a Idade Média “para as pessoas que viveram a Idade Média”. Lembrou que aquela era “cumpriu uma missão espectacular”, ainda que “com excepções”, como foi o caso da Inquisição.
Por outro lado, afirmou respeitar “o século XXI para as pessoas que vivem hoje no século XXI”.
“Também no século XXI eu gostaria, e da minha parte farei tudo, para que a Igreja esteja também actualizada em ordem à relação com a pessoa humana e com a sociedade humana também à medida do século XXI”, assegurou.
“É uma coisa que eu acredito que é possível e vamos todos – eu, leigos, padres da minha diocese – tentar”, acrescentou.