Em declarações à Agência Lusa, D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas e das Forças Policiais, concordou que a “solução para o problema da sida não passa pela distribuição de preservativos”, salientando, no entanto, que na luta contra um inimigo letal, como é o vírus do HIV/Sida, a Igreja Católica tem de estar sempre do lado da vida”.
“Não pode haver uma concepção genérica, há situações tão graves de infecção que levam à morte e por isso defendo a cultura da vida, como também sou contra a tortura e a pena de morte e contra o aborto”, disse o prelado, na sequência das declarações proferidas hoje pelo Papa Bento XVI, antes de iniciar o seu périplo por África.
Opinião partilhada pelo padre Manuel Morujão, secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, que sublinhou que “não é facilitando por essa maneira [utilização de preservativos] que se ultrapassa o problema da propagação da doença”.
“Isto tem que acontecer pela educação das pessoas. Não se pode dizer ‘façam como entenderem’, temos um instrumento mágico que liberta as pessoas da sida”, frisou.
Horas antes de aterrar na capital dos Camarões para a sua primeira visita ao Continente Africano, o pontífice falou hoje, pela primeira vez, explicitamente sobre o uso de preservativos, defendendo que a solução para o flagelo da sida não passa pela distribuição destes contraceptivos.
Segundo Bento XVI, a “sua utilização, pelo contrário, agrava o problema”.
Apesar de compreender que “há casos limite em que essas condições ideais não se verificam”, Manuel Morujão destacou que a “orientação a nível da doutrina deve ser essa”.
No entanto, o secretário da Conferência Episcopal afirmou que a utilização dos preservativos pode fazer “parte do caminho rumo a uma solução”, sobretudo em casos extremos, mas sublinhou que “não se pode entrar no caminho do facilitismo”, considerando que isso “seria enganar as pessoas”.
“Existe compreensão para os casos que não possam cumprir o que a Igreja dita como sendo ideal. Há essa tolerância, mas a compreensão dos casos particulares não deve baixar a fasquia da exigência”, defendeu Manuel Morujão.
Contactado pela Lusa, D. Jorge Ortiga, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e arcebispo de Braga, que quarta-feira viaja para Angola, evitou comentar as declarações do Papa, alegando não conhecer as afirmações do pontífice “na íntegra e no contexto em que foram ditas”.
A Igreja Católica, que se afirma na linha da frente do combate à sida, encoraja a abstinência para impedir a propagação da doença. No entanto, padres e freiras que trabalham com vítimas da sida em África questionam a posição da Igreja contra o preservativo.