Quando, com 11 anos, o franzino Cristiano Ronaldo deixou a Madeira para tentar a sorte no Sporting, ninguém imaginaria que, pouco mais de uma década depois, faria capa na France Football com a Bola de Ouro nas mãos.
O dianteiro madeirense do Manchester United e da selecção nacional obteve uma vitória esmagadora, com 446 pontos, em 480 possíveis, sendo seguido por Lionel Messi, o argentino do Barcelona, com 281 pontos e pelo espanhol do Liverpool Fernando Torres, com 179.
Cristiano Ronaldo venceu com pontuação superior à do seu antecessor, o brasileiro Kaká, que obteve 444 pontos.
Porventura, nem mesmo Cristiano Ronaldo Santos Aveiro, nascido no Funchal a 5 de Fevereiro de 1985, sonhava com essa possibilidade, embora se amparasse na excelência do seu futebol para acreditar num futuro risonho, quando trocou o Nacional por um dos “grandes” da capital, depois do arranque no modesto Andorinha de Santo António.
O êxito do madeirense não reside só no talento, mas também no empenho que emprega para desenvolver as capacidades inatas. Sir Alex Ferguson e Carlos Queiroz, por exemplo, falam amiúde de momentos em que os jogadores do Manchester United recolhem aos balneários e apenas Ronaldo fica em campo para procurar ser cada vez melhor.
Lançado no Sporting pelo romeno Laszlo Boloni a 14 de Agosto de 2002, com apenas 17 anos, começou a dar nas vistas e, aquando do jogo de inauguração do novo Estádio José Alvalade, os jogadores do Manchester United ficaram impressionados e exigiram a sua contratação a Alex Ferguson, que o levou por “apenas” 15 milhões de euros.
“Senti, em relação a Ronaldo, que se não fosse o Manchester United seria o Chelsea, se não fosse o Real Madrid era certamente o AC Milan. E também senti que ele e Quaresma iriam dar muitas alegrias à selecção nacional, ao povo português, porque o talento afirma-se mais tarde ou mais cedo”, disse recentemente o treinador romeno.
Desde aí, tem somado êxitos e prémios. Campeão inglês e europeu, melhor marcador em ambas as competições e com a Bota de Ouro que premeia o maior goleador do continente, Cristiano Ronaldo, mesmo sem um título na selecção, alcançou o reconhecimento planetário com a Bola de Ouro, como Eusébio em 1965 e Luís Figo em 2000.
Cristiano Ronaldo, que Aurélio Pereira aceitou no Sporting, também não tem, como não teve, dúvidas sobre as qualidades do melhor jogador do Mundo: “Sei que não sou um mágico na descoberta de talentos como Cristiano Ronaldo, mas a experiência dizia-me que ele estava destinado a ser grande”.
Não se enganou o eficaz “olheiro” leonino, que descobriu talentos como Futre, Figo, Simão ou Quaresma, porque Ronaldo atingiu uma dimensão só ao alcance dos predestinados e nada parece poder travar a ascensão do precoce capitão da selecção, que aos 23 anos, com 62 jogos e 21 golos com a camisola das quinas, colecciona diversas distinções individuais. E a próxima pode chegar já no início de 2009, quando a FIFA anunciar o seu Jogador do Ano.
Herdeiro da camisola 7 que pertenceu a Charlton, Best, Cantona ou Beckham, em Manchester é um dos símbolos do United e os adeptos em Old Trafford voltaram a entoar “There’s only one Ronaldo” (Ronaldo só há um), perdoando-lhe o namoro com o Real Madrid, que esteve disposto a desembolsar 90 milhões de euros pelo português.
Cristiano Ronaldo acabou por ficar em Manchester e prometeu dedicação total. Chegou aos 100 golos no United com a mesma naturalidade com que marcava e dava a marcar no Andorinha e nos jogos de rua e com o mesmo à-vontade com que posou para a capa da France Football com a Bola de Ouro.
Apesar de habituado a ser o centro das atenções desde cedo, o jogador reagiu com cara de poucos amigos aos apupos do público da selecção portuguesa, durante o recente “nulo” frente à Albânia, em Braga, na qualificação para o Mundial África do Sul2010, tal como na cerimónia de consagração do melhor jogador do Mundo da FIFA de 2007.
Na altura, Cristiano Ronaldo não escondeu o desagrado em ficar na terceira posição, atrás do argentino Lionel Messi e do vencedor, o brasileiro Kaká, também ele Bola de Ouro de 2007.
Outro episódio recente de vedetismo registou-se na visita do Manchester United ao Aston Villa, na Liga inglesa, quando, depois de ser substituído, a estrela portuguesa fez questão de exclamar para as bancadas: “Sou o número um”.
Estas e outras situações deram argumentos para os vários comentadores que criticam a escolha para capitão da selecção nacional do craque que passou de um primeiro salário mensal de cerca de 50 euros até aos actuais 7,5 milhões de euros por ano, sem contabilizar os vários prémios por objectivos e os contratos publicitários.
Os responsáveis dos “Red Devils” querem o seu “solista” feliz e estará em cima da mesa a renovação do vínculo até 2014, passando dos actuais 150 mil euros por semana para cerca de 200 mil euros, muito longe dos 1.500 euros por mês que ganhava no Sporting quando foi transferido para Manchester.
O talento trouxe-lhe o êxito, mas se, por um lado, as vistosas fintas lhe dão proveitos mil, por outro, o “showbiz” tem um preço a pagar. Além da “pressão alta” dos adversários, Ronaldo passa a vida a “driblar” repórteres de tablóides, a quem não escapam as suas aventuras amorosas, e outros interessados em lucrar com a sua fama.