São, pelo menos, quatro. Dois deles dirigentes nacionais, um líder distrital e um ex-elemento da direção de André Ventura. Mesmo após os desmentidos formais da Comissão Nacional de Eleições (CNE), a cúpula do Chega continua a imitar a estratégia seguida pelos apaniguados de Donald Trump nos EUA e dissemina em grande escala, nas redes sociais, suspeitas sobre a existência de fraudes com o voto antecipado nas Presidenciais.
“Durante o dia de hoje diversas pessoas que me enviaram mensagem a perguntar se tínhamos controlo nas mesas de voto para precaver fraude! Tive de ser sincera e responder a verdade: temos algumas pessoas, mas controlo de tudo não temos”, escreveu no domingo, 17, na sua página no Facebook, Lucinda Ribeiro, a programadora infomática e evangélica que integra os órgãos nacionais e gere várias páginas de apoio a André Ventura. Aquela dirigente juntava ao comentário uma imagem televisiva do voto antecipado e pedia vigilância.
Nesse mesmo dia, o colega de direção Pedro Frazão partilhou igualmente imagens de uma reportagem nas mesas de voto: “O que é isto!?? Urnas abertas!? Estas urnas vão ficar à guarda do poder local, politizado, e não estão lacradas ou seladas!?”, indignou.se. No dia seguinte, foi a fez do ex-dirigente nacional Joaquim Chilrito alimentar as suspeitas sobre a “provável fraude” em curso, sugerindo que o ministro Eduardo Cabrita a encabeça a referida preparação para tal, que, escreve na sua página no Facebook, “consistiria em mandar fazer os envelopes maiores que a abertura das urnas, a fim de justificar as urnas abertas e completamente permeáveis à fraude”.
O líder da distrital de Lisboa foi outro dos que fez coro com a tese de estar em marcha uma fraude eleitoral para prejudicar André Ventura. Pedro Pessanha usou uma das muitas imagens de TV sobre a votação antecipada, com uma urna aberta, e comentou: “Mesa de voto…Vila Nova de Gaia… Por acaso, só por acaso, foi onde votou a Catarina Martins [líder do BE]”.
Enquanto isso, no Entroncamento…
O tema do suposto processo de fraude em curso gerou ainda incidentes numa mesa de voto, no Entroncamento, no domingo, 17, conforme relatou o jornal Mais Ribatejo. Em comunicado, o Chega queixou-se de que o seu delegado na assembleia de voto antecipado daquele concelho teria sido expulso pelo presidente da mesa. “Realidade alternativa, ao estilo do trumpismo”, reagiu o visado, António Miguel. Segundo explicou, “nenhum dos seis elementos da mesa de voto se reveem no comportamento e nos comentários do delegado do candidato André Ventura e isso mesmo ficou inscrito na ata”, explicou o presidente da mesa.
Rafael Costa, o representante do Chega, foi acusado de se apresentar no local sem máscara, de causar transtornos ao bom funcionamento da mesa, de fazer telefonemas constantes durante o exercício do ato eleitoral e tentar fotografar a contagem. O próprio partido de Ventura reconhece que a votação decorreu com normalidade, mas garante que o seu delegado foi impedido de acompanhar a contagem dos votos, tendo sido chamada a PSP ao local e apresentada queixa à CNE. “A versão do comunicado do Chega sobre os incidentes causados pelo delegado da candidatura de André Ventura no processo de votação é um conjunto de falsidades”, afirmou, entretanto, ao Mais Ribatejo, António Miguel. E detalhou: “Ao longo do processo de votação o delegado da candidatura de André Ventura passou o tempo ao telemóvel a fazer comentários com despropósito em voz muito alta”.
Após o encerramento das urnas, “continuou a fazer comentários despropositados ao telemóvel, pelos quais o repreendi, pois estava a perturbar o processo de contagem dos votos, tendo-lhe solicitado que parasse os comentários ou saísse da sala para fazer as chamadas”, denuncia ainda o presidente da mesa. “Nesse momento, o delegado de André Ventura começou a recolher imagens com o telemóvel do processo de contagem dos votos, ao que lhe pedi para parar, sendo-lhe apenas permitido fotografar ou filmar no exterior da sala”. Rafael Costa terá então tomado a iniciativa de sair da sala e regressar com elementos da PSP.
Há dias, e na sequência da propaganda da suposta fraude nas redes sociais, João Tiago Machado, membro e porta-voz da CNE desmentiu ao Polígrafo a existência de qualquer problema: “Não há nenhuma ilegalidade. Não têm de estar fechadas, porque na realidade não são bem urnas. É um sítio onde se guardam os envelopes azuis [dentro dos quais estão os votos]. Portanto, não é como uma urna que tem de estar fechada. Aquilo é só onde se depositam os envelopes azuis que estão identificados e que estão hoje [segunda-feira, dia 18 de janeiro] a ser remetidos para as assembleias de voto onde os eleitores votariam se não tivessem votado em voto antecipado”, esclareceu.