Rui Rio já afinou o discurso e, da sua voz, ao que parece, nem uma nota fora de tom será ouvida até ao final da campanha. Esta quarta-feira, em Leiria, sede de distrito laranja, o líder do PSD insistiu em sublinhar diferenças entre as campanhas de PSD e PS – dramatizando a questão: há uma campanha a ser feita “pela positiva” (do PSD) e outra “pela negativa” (do PS), garante, em uníssono, a cúpula do partido.
“A campanha do PSD contrasta, e muito fortemente, com aquilo que é a campanha do PS. E, como ando nisto há muitos anos, estou à vontade para dizer isto: os homens do marketing que o PS contratou dizem que o melhor caminho é deturpar as nossas ideias e as propostas. Dizem que, por estar no poder, o PS deve mentir e meter medo às pessoas, para impedir uma mudança. Percebo a racionalidade da estratégia, mas digo-vos: mesmo que os homens do marketing do PSD me dissessem para fazer isto, eu recusaria”, disse Rui Rio, entre aplausos.
Abrigado no papel de homem “sério” e “honesto” – que, durante toda a campanha, por todo o País, militantes e apoiantes lhe têm atribuído –, o líder social-democrata disse “lamentar” que a campanha do PS “tenha ido por esse caminho”, procurando reforçar “os princípios” que o norteiam, desvalorizando, até, as próprias Legislativas: “Ainda me esforcei, na campanha, para dar uns ‘toques’ de humor… E, sinceramente, o que vai acontecer no domingo [dia das eleições], não é de vida ou de morte. Temos de aceitar as coisas democraticamente, Na vida, há coisas bem piores… temos, principalmente, de ser sérios”, sublinhou. O efeito desejado estava alcançado – valendo-lhe nova manifestação ruidosa de apoio popular.
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/01/220126_LB__3798.jpg)
Chega para lá: “Crescimento de André Ventura interessa ao doutor António Costa”, garante Rio
Rui Rio quer deixar os ataques “para o outro lado” – isso já disse e repetiu (vezes sem conta, na última semana e meia). Desta vez, porém, não deixou sem comentários as afirmações, feitas na véspera, por António Costa, que reclamou para si o epíteto de “inimigo número um” do Chega, “colando” o partido de André Ventura ao PSD. Rui Rio foi aos arquivos, e encontrou os números que desejava: “O PS e o Chega votaram 1.180 vezes ao mesmo lado, na Assembleia da República, nos últimos dois anos. Não tem nada de mal, atenção. Mas é apenas para alertar os portugueses para a demagogia [de António Costa]”, referiu
Reafirmando que não vai aceitar membros do Chega num eventual futuro Governo PSD – “já o disse mil vezes”, referiu –, Rio deu o troco, dizendo que, na verdade, o crescimento do partido de André Ventura até interessa muito menos ao PSD e… mais ao PS. “O doutor António Costa é um dos interessados em que o Chega tenha uma grande votação, isto é absolutamente evidente. Eu, para ser primeiro-ministro, para o PSD para ganhar, preciso que se vote no PSD; o doutor António Costa precisa do contrário, que não se vote no PSD, portanto, quanto mais votos forem para o Chega, mais facilmente o doutor António Costa fica como Primeiro-ministro”, afirmou.
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/01/220126_thumbnail_LB__2188.jpg)
Só Henrique Neto “escapou” ao discurso “oficial”: “António Costa não tem ponta de seriedade”
Henrique Neto, ex-comunista, ex-deputado do PS, ex-candidato à Presidência da República (em 2016), apresenta-se, desta vez, como mandatário distrital da candidatura do PSD por Leiria, encabeçada por Paulo Mota Pinto, presidente da mesa do Congresso do partido. Crítico acérrimo da governação do PS e de António Costa – que até o levou a desvincular-se do partido em 2017, após mais de duas décadas de militância –, Henrique Neto parecia, à partida para o 11.º dia de campanha, um “risco” para o discurso “oficial” de Rui Rio. E, como se esperava, foi da sua boca que se ouviram as críticas mais ferozes, dirigidas ao “outro lado”.
“A minha primeira desilusão com o PS foi o José Sócrates. E, agora, António Costa é mais uma desilusão. Foi de desilusão em desilusão, até à desilusão final”, confessou, à VISÃO. Mas não ficou por aqui: “Rui Rio, pelo menos, pelo seu passado, dá a garantia de imprimir alguma seriedade à governação, e isso já é um grande avanço. António Costa, por outro lado, não tem ponta de seriedade. É o poder pelo poder. Nega a evidência das estatísticas, nega o empobrecimento do País e, portanto, através da negação… não vamos a lado nenhum”, disse.
Entre as (muitas) críticas, o empresário destacou a relação com os… empresários. “Nestes seis anos de Governo, António Costa pôs os empresários de parte. Ora, os empresários é que criam riqueza, criam as empresas, o emprego e os salários. Se um líder não tiver os ouvidos bem abertos para ouvir toda a gente e, sobretudo, aqueles que podem contribuir para o desenvolvimento do País, as coisas não resultam. Rui Rio tem essa qualidade: ouve, e espero que continue assim”, concluiu.
Leiria já ficou para trás. Mas, neste caso, a máquina laranja não “filtrou” todo o sumo.
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2022/01/220126_LB__2924.jpg)
“Leiria é PSD” ou mais um capítulo da onda laranja
– “Tanta gente que votou no Rangel, e agora…”, gritou ele.
– “Chiu!”, repreendeu ela, dando-lhe um toque com o cotovelo.
O diálogo, entre um jovem casal, na casa dos vinte, terá passado despercebido à maioria, mas resumia, em menos de cinco segundos, a união que se vive (e se sente) na campanha, e, a cada dia, arrasta largas centenas de militantes e apoiantes atrás de Rui Rio, em todos os pontos da campanha do PSD. Das divisões internas, nem uma centelha para amostra…
Em Leiria, distrito laranja – em 2019, o PSD conquistou cinco deputados (mais um do que o PS) neste círculo; agora, tem como objetivo recuperar os seis conseguidos em 2015 –, a receção correspondeu às expectativas. E, uma vez mais, lá foi Rui Rio “engolido” pela onda laranja, feita de gente eufórica, cantando pelo partido e pelo líder, empunhando bandeiras, distribuindo flyers, ao som de música popular criada por uma gaita de foles e dois bombos (presença assídua na campanha).
“Leiria é laranja. Leiria é Rui Rio. Leiria é PSD”, gritava, ao megafone, um jota. No percurso de 500 metros, pelo coração de Leiria, Rui Rio voltou a contactar com a população (em massa). Recebeu apoio e carinho. Abraços e cumprimentos efusivos. Tirou (incontáveis) selfies. Ouviu apelos, votos de felicidade, desejos e esperanças. Contactou lojistas do comércio local… A certeza na vitória final, essa, parece inabalável.
Diferença para outras jornadas, apenas uma: as palavras do líder, desta vez, foram (muito) poucas, ao contrário dos primeiros dias. No final da arruada, o semblante de Rui Rio não enganava – a campanha é dura para todos. E, a dois dias do fim, a energia que resta parece que vai chegar à justa.