Rui Tavares votou, ao início desta tarde, na cidade Universitária, em Lisboa – foi o segundo líder partidário a exercer o direito de voto antecipado, depois de, horas antes, António Costa ter depositado o papelinho na urna, no Porto. À entrada para a Faculdade de Direito, o candidato do Livre deixou recados à esquerda: criticou a “estratégia” das campanhas de PS, Bloco de Esquerda e PCP, e apelou por discursos de “tranquilidade” e “convergência” para a última semana de campanha, antes das eleições de 30 de janeiro.
Catarina Martins, coordenadora do BE, tinha afirmado, esta manhã, no mercado de Santana, nas Caldas da Rainha, que seria bom “que o PS mudasse de agulha”, porque a estratégia de “queimar pontes à esquerda” e pedir a maioria absoluta “acaba por abrir caminho à direita”. Rui Tavares concordou… mas não poupou ninguém.
“Durante todas as eleições, tivemos numa espécie de ‘passa-culpas’ entre partes da esquerda, que não ajudou em nada. Toda a gente deveria ter ‘mudado de agulha’ antes, e isso o Livre foi sempre dizendo. Há muito tempo que fazemos esse apelo. Não é preciso matemática avançada: quando a esquerda demonstra vontade de convergência, o eleitorado de esquerda sente-se mobilizado, com mais vontade de ir votar, e acontece o que aconteceu em 2019 – foi o melhor resultado da esquerda desde o 25 de Abril. Evidentemente, há partidos que põem a tática à frente da estratégia e, assim, desmobiliza-se o eleitorado. Corremos o risco de ter uma maioria de direita, encostada à extrema-direita. É um risco”. “É bom que os outros partidos compreendam que o caminho que estavam a fazer era errado”, afirmou.
Apelo “à calma” para “casos e casinhos” na reta final da campanha
Secção 50. Rui Tavares colocou a cruzinha no boletim de voto, rodeado por jornalistas, e perante os olhares curiosos de quem se cruzava com o aparato da sua chegada. Mais de 315 mil pessoas estão inscritas para votar, este domingo, nas Legislativas – uma operação que mobilizou 1.100 pessoas, apenas na capital, prontas para assegurar o funcionamento de 152 secções de voto. Cerca 30 membros de mesa faltaram, confirmou, ao final desta manhã, a Câmara Municipal de Lisboa. Nada, porém, que coloque em causa a normalidade do processo.
É, precisamente, “normalidade”, que Rui Tavares espera (e deseja) para a última semana de campanha eleitoral. O líder do Livre apelou à “calma”, tentando, antecipadamente, pôr “água na fervura” no discurso político à esquerda – a preocupação é, hoje e sempre, a “fuga” de votos para a direita. O candidato insiste na construção de “pontes”, tendo em mente o dia seguinte às eleições. E, portanto, pede aos eventuais parceiros pós-eleitorais que troquem a “tática” pela “estratégia”.
“É preciso manter a calma. Claro que vamos ter ‘casos e casinhos’, as sondagens enervam as pessoas, mas é preciso manter a calma, manter nervos de aço nestes últimos dias, não esquecer que quando se fala de voto útil se deve dividir entre voto tático e estratégico: o tático é quando as pessoas querem impedir outro de chegar ao poder, e é um voto legítimo como outro qualquer; o estratégico, é quando as pessoas também votam, pensando além disso, pensando o que aquele voto pode permitir pensar o futuro logo no dia seguinte às eleições”.
E como será, então, a estratégia do Livre? “A nossa estratégia é falar com bom-senso com os nossos concidadãos, tratá-los como os adultos inteligentes que são. Confiar que o primeiro instinto é favorecer quem ajudou à democracia, quem elevou o debate político, quem trouxe conteúdos”, disse.
Falta uma semana, para se saber se, de facto, os portugueses reconhecem esse papel ao Livre e a Rui Tavares.