As palavras, diz-se, são como as cerejas e, num ápice, o debate entre Maria Mortágua (BE) e André Ventura (Chega) saltou da especulação imobiliária para o terrorismo. Para isso, bastou que o líder do Chega introduzisse na conversa o caso Ricardo Robles – o antigo vereador municipal do Bloco que comprou um prédio à Segurança Social por um pouco mais de 300 mil euros e o colocou à venda, após obras de reabilitação, por mais de cinco milhões de euros – para o debate resvalar para um confronto entre organizações terroristas: o MDLP, de inspiração spinolista, e as FP 25, com Otelo Saraiva de Carvalho como principal mentor.
Ao primeiro, responsável pela morte do padre Max, acusou Mortágua, pertenceu o número dois do Chega, Diogo Pacheco Amorim. Na resposta, Ventura recordou o caso de candidatos autárquicos do Bloco que integraram as FP 25, recordando alguns dos atentados levados a cabo na década de 80.
Feito o ajuste de contas histórico, o debate acabaria por ficar marcado pelo ritmo que a coordenadora do Bloco de Esquerda imprimiu, não deixando André Ventura discorrer sobre as propostas do Chega, obrigando-o a falar constantemente sobre o que o Bloco de Esquerda coloca em cima da mesa, sobretudo em matéria de imigração e habitação.
Mariana Mortágua criticou o partido de André Ventura por querer recuperar os Vistos Gold, declarando que estes são uma porta aberta para a “corrupção” e que colocam pressão nos preços da habitação. Ventura respondeu, afirmando que o programa apenas foi responsável por 3% do investimento imobiliário e que, no total, injetou 4,2 mil milhões de euros na economia nacional.
Enquanto Mariana Mortágua fez questão de explicar o caso da sua avó – uma mulher com 80 anos, assustada com uma carta do senhorio – Ventura recordou os tempos em que viveu “numa igreja” na baixa de Lisboa para aludir ao antes e depois da reabilitação urbana no contexto do Alojamento Local.
Quanto à imigração, Mortágua referiu que pretende regularizar e integrar os imigrantes, enquanto André Ventura fixou-se pelo habitual garrote às entradas em território nacional.
Em resumo, Mariana Mortágua posicionou-se com mais confiança para fazer fazer parte de uma futura solução governativa à esquerda do que o Chega, caso o PSD vença as próximas Legislativas sem maioria. “Ninguém se quer sentar ao seu lado por causa das posições racistas e xenófobas”, declarou, numa referências às mais recentes declarações de Luís Montenegro, líder do PSD, precisamente num debate com André Ventura.
Indumentária
A coordenador do Bloco de Esquerda optou pelo clássico blazer vermelho e camisa branca. Desta vez, não foi possível apurar se Mariana Mortágua insistiu nas “All-Star”, mantendo o estilo “casual-chic”. A opção de André Ventura passou por conjugar o clássico fato e camisa branca com uma gravata rosa choque
Presentes/Ausentes
Ricardo Robles foi o trunfo exibido por André Ventura para criticar a “hipocrisia” do Bloco de Esquerda quanto ao combate à especulação imobiliária. Mariana Mortágua respondeu com Diogo Pacheco Amorim, vice presidente do Chega, que pertenceu ao movimento MDLP, responsável por atentados de extrema-direita, em Portugal, no final da década de 70.
As farpas
Mariana Mortágua: “Ninguém se quer sentar ao seu lado por causa das posições racistas e xenófobas”
André Ventura: “No Príncipe Real, a malta da esquerda chique, queque, acha que o problema da imigração só diz respeito aos subúrbios”.
Ideias fortes
Mariana Mortágua: “Queremos integrar e regularizar a imigração, com acesso ao Serviço Nacional de Saúde e à Língua”
André Ventura: “O Bloco de Esquerda quer uma imigração Gare do Oriente, cheia de sem-abrigo.”