Há velórios mais animados. Quando as projeções das três televisões mostraram uma vitória (provável) da AD, uma explosão do Chega e o Bloco de Esquerda atrás da Iniciativa Liberal, as dezenas de militantes e apoiantes do partido de Mariana Mortágua ficaram mudos. Ao mesmo tempo, não há caras de surpresa.
Uma hora antes, pelas 19h, já se sentia no Fórum Lisboa uma certa ansiedade com travo a pré-desânimo. As perspetivas de que o BE pudesse ter qualquer coisa semelhante a uma vitória eram escassas, e as poucas dezenas de militantes e apoiantes do partido que se iam entretendo com umas minis, no bar, pareciam ter plena consciência disso. Até os brindes eram frouxos.
Conseguir o mesmo número de deputados é uma derrota. Ficar atrás da Iniciativa Liberal (por quem o BE tem uma animosidade especial) é uma derrota. Ficar atrás da CDU é uma derrota. Ficar atrás do Livre é uma tragédia. E o pior: mesmo ficar acima dos outros partidos pequenos da esquerda e da votação e do número de deputados de 2022 não é suficiente para que Mariana Mortágua e os seus camaradas saiam minimamente satisfeitos.
Primeiro, porque as legislativas de 2022 foram um desastre com características muito especiais – o BE foi despedaçado pelo pedido de voto útil de Costa, que conseguiu convencer os eleitores que o Bloco era parte do problema, depois da queda do governo (o partido de, então, Catarina Martins caiu de 19 deputados para 5, ficando com menos representação parlamentar do que a CDU pela primeira vez em 11 anos).
Segundo, porque o crescimento não valerá de nada se a direita ganhar. Durante a campanha, ficou claro que PS, BE, CDU e Livre (e, eventualmente, PAN) tinham uma estratégia alinhada na possibilidade de uma nova geringonça. Não vencendo o PS, e a esquerda não tendo maioria, o BE é um dos principais derrotados, tenha ou não mais deputados.
É verdade que a margem de erro das três projeções ainda mantém demasiado em aberto o número de deputados. Numa delas, vai de 3 a 9. Mas a vitória do BE depende de uma vitória do PS. A esperança de quem aqui se encontra hoje é que o empate técnico, apesar da vantagem da AD em todas as projeções, haja um volte-face e que Pedro Nuno Santos ultrapasse Montenegro. A noite adivinha-se longa.