William Shakespeare escreveu que “em tempo de paz, convém ao homem serenidade e humildade, mas, quando estoura a guerra, deve agir como um tigre”. Notoriamente, o tempo político foi inimigo do secretário-geral do PS e do presidente PSD, que encabeça a coligação de direita AD. Com os acontecimentos provocados pela Operação Influencer, o socialista Pedro Nuno Santos, de 46 anos, teve de acelerar um guião que tinha, em parte, escrito na sua cabeça, sobre a sucessão de António Costa. Quanto ao social-democrata Luís Montenegro, de 51, que achava serem as europeias o primeiro teste à sua liderança, viu-se confrontado com uma prova de fogo maior e mais decisiva. Correm ao cargo de primeiro-ministro e, salvaguardando os devidos posicionamentos ideológicos, além de algumas similitudes no seu percurso partidário e nas suas estratégias, ambos entraram na pré-campanha destas legislativas demasiado disciplinados e comedidos, contrariando aquilo que lhes era apontado como característico nas suas personalidades.
Desde há três semanas, o líder “laranja” virou as expectativas, mostrando maior combatividade e uma imagem institucional e de estabilidade, quando muitos – que o viam como um rosto dos tempos da Troika – o acusavam de não ter tais capacidades. Em sentido contrário, Pedro Nuno só conseguiu encontrar um tom mais aguerrido na reta final da campanha. Foi, aliás, um candidato socialista muito apagado nas ruas que a VISÃO acompanhou, no início da campanha, em Leiria (nem sequer dentro das diversas sapatarias em que entrou, o socialista estava à vontade para se valer do facto de ser “neto de sapateiro”). A verdade é que nem um nem outro conseguiu descolar nas intenções de voto e muito menos mostrou aptidão para convencer a enorme fatia de indecisos, que pode impor uma reviravolta, a 10 de março.