O Movimento Alternativa Socialista (MAS) está impedido de participar nas legislativas de 10 de março. O partido tinha apresentado candidatura ao círculo eleitoral de Lisboa – que, como em 2022, teria Renata Cambra como cabeça de lista –, mas o tribunal acabou por decidir pela sua “não admissão”, depois de João Pascoal, em nome da comissão executiva do MAS, alegar que este processo em nome do partido é “falso”.
O MAS vive em convulsão interna desde março de 2023, com duas alas – encabeçadas por Renata Cambra e pelo “histórico” Gil Garcia – a reclamarem ser os legítimos líderes da organização, formada em 2013, que nasceu da saída dos movimentos Ruptura e Frente da Esquerda Revolucionária (FER) do Bloco de Esquerda.
As divergências terão começado quando a Comissão Nacional do MAS chumbou (por 6 votos contra 5) a proposta para uma estratégia que passava pela eventual ligação (ou coligação) do partido com o movimento Juntos Vamos Mudar, criado por professores, e que pretendia transpor as lutas do setor para o espectro político-partidário com o objetivo de alcançar representação parlamentar. A situação acabou por levar à saída de André Pestana do partido.
A fação de Renata Cambra (que conta com Ângela Lima, Bruno Cancelinha, Joana Silva, Nuno Geraldes e Vasco Santos) considera que os adversários internos “lidaram mal” com o resultado da votação, passando a “questionar a legitimidade” do órgão e dos seus representantes, que terá sido eleito no 4.º Congresso do partido, em junho de 2022. A cabeça de lista do partido nas últimas legislativas acusa Gil Garcia (na foto) de ter “cortado”, aos membros da Comissão Nacional, saídos do congresso, o acesso à sede, contas bancárias e passwords dos e-mails e das redes sociais. Já o bloco de Gil Garcia (que conta com Daniel Martins, João Pascoal e Flávio Ferreira) não reconhece os resultados do congresso em que Renata Cambra foi eleita e acusa a jovem política e professora de “querer, apenas, manter o MAS como um partido marginal”. Gil Garcia refere ser ele o único e legítimo coordenador do MAS.
O Tribunal Constitucional tem em mãos, desde setembro passado, uma queixa de Renata Cambra no âmbito deste processo, mas, passados mais de quatro meses, ainda não houve nenhuma decisão. Os juízes do Palácio Ratton também já terão recebido o recurso de Renata Cambra relativo à decisão de invalidar a candidatura do MAS às legislativas de 10 de março, mas a esperança de haver uma decisão em tempo útil é, neste momento, pouca… ou nenhuma.
Recorde-se que o MAS somou 6.181 votos (ou 0,11%) nas legislativas de 2022, praticamente o dobro da votação de 2019 (quando somou 3.158 votos) –, tornando-se um dos dois partidos sem assento parlamentar a crescer, em número de votos ( ou outro foi o Juntos Pelo Povo). Ainda assim, o resultado ficou aquém do esperado, sobretudo, depois da visibilidade conquistada pela porta-voz do partido, Renata Cambra, no rescaldo da sua prestação (que se tornou viral) no debate da RTP, que juntou os partidos sem representação parlamentar.
MAS (do lado de Renata Cambra) reage
A ala do MAS de Renata Cambra, entretanto, já reagiu à ausência nas eleições. Em comunicado, o grupo crítica a decisão, considerando que esta resulta da “demora propositada do Tribunal Constitucional” em esclarecer a questão da liderança e é “uma tentativa de silenciar a voz dos de baixo, das que lutam contra as injustiças sociais e exigem que os ricos paguem a crise que só aos de cima beneficia”.
Os (supostos) dirigentes, que se mantêm ao lado de Renata Cambra, afirmam que, apesar de não figurarem no boletim de voto, vão “estar presentes nas eleições, continuando a levantar as bandeiras dos trabalhadores e da juventude” e depois, continuando “a participar em todas as lutas contra os governos que querem descarregar os efeitos da crise nas costas do povo, denunciando as falsas soluções da extrema-direita e, acima de tudo, sendo a voz de quem quer lutar e construir uma alternativa verdadeiramente socialista e internacional”, lê-se.
Notícia atualizada às 19h00, com parte do comunicado do MAS (ala Renata Cambra), numa primeira reação à decisão do tribunal de considerar inválida a candidatura do MAS.