Álvaro Beleza, 63 anos, médico, militante e ex-dirigente do PS e presidente da SEDES desde junho de 2020, defendeu, esta quarta-feira, no IRREVOGÁVEL, programa de entrevistas da VISÃO, que os partidos à esquerda “trairam o PS”. O antigo porta-voz de António José Seguro para a área da Saúde defende um recentramento dos socialistas: “O PS deve governar ao centro e deve conversar com o PSD”. Questionado se isso será possível, depois das eleições, sem mudança de protagonistas e com António Costa ao leme do partido, Beleza responde afirmativamente: “Até na entrevista à RTP, António Costa deixou claro que não fechará essa porta. E, no congresso recente da SEDES, fez uma intervenção sobre temas económicos, muito elogiada até por elementos à direita do PS.”
Sem querer apontar nomes, Álvaro Beleza atribui à “juventude” o “radicalismo à esquerda” de alguns dirigentes do PS, “que não viveram o perídodo do PREC, não assistiram, in loco, como eu, à queda do muro de Berlim e à Revolução de Veludo, em Praga, nem sabem o que é uma ditadura comunista”. Mas afirma estar convicto de que António Costa é um “social-democrata moderado” e que o PS continua a ser um partido de centro-esquerda.
Álavaro Beleza preconiza, assim, um Bloco Central, se necessário. “Porque, na atual situação que vive o País, pode ser necessário que PS e PSD tenham de se entender. Não tenho nenhum receio do papão do ‘bloco central de interesses’, o que quero é um bloco central que resolva os problemas do País, aproveitando o melhor que a esquerda tem, a justiça redistributiva e a firme defesa do estado social e da qualidade da regulação, e o melhor que a direita tem, a preocupação com o desenvolvimento económico, das empresas e a criação de emprego”.
O balanço da geringonça, solução da qual nunca foi “um entusiasta”, não é, portanto, brilhante, embora elogie algum crescimento económico e “as contas certas”. Sobre o eventual pedido, por parte do PS, de uma maioria absoluta, não se mostra preocupado: “O PS deve pedir os votos, como todos os partidos. Mas ter maioria ou não ter a tal maioria não é importante. Por vezes, até é preferível ter um governo partilhado…”
Relativamente à gestão da pandemia, elogia o desempenho do Governo e do SNS, mas defende que as políticas de saúde devem articular SNS com os outros setores, social e privado, e fala mesmo em “sistema” nacional de Saúde: “As pessoas querem qualidade nos serviços de saúde, e essa é que deve ser a principal preocupação do Estado”. Isso implica “articular a oferta pública com o sistema privado”. Por exemplo, defende que o fim das PPP na Saúde foi “um disparate”. Curiosamente, aponta, “tendo havido um governo do PS com o apoio do BE e do PCP, o setor privado acabou por crescer como nunca antes. É um paradoxo”.
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