“Fizemos cinco milhões de lucro. Espero poder ficar cá para sempre”. Foi com esta declaração entusiástica que Paddy Cosgrave se apresentou aos jornalistas na conferência de imprensa em que relevou que a Web Summit espera fechar o ano com um lucro recorde, que representa uma subida de 30% nos resultados líquidos da empresa. Estes números dizem respeito às atividades da Web Summit em todo o mundo, mas serviram de mote para o PCP fazer as contas aos gastos que a Câmara de Lisboa tem vindo a assumir com o evento desde que Fernando Medina celebrou um acordo com Cosgrave. O valor impressiona: são mais de 38,7 milhões de euros em transferências diretas desde 2019.
“A Câmara já gastou mais com a Web Summit do que com as Jornadas Mundiais da Juventude”, comenta à VISÃO o vereador comunista, que questiona o racional de continuar a investir dinheiro público no evento numa altura em que Lisboa é uma das capitais da Europa mais procuradas pelo turismo.
“É evidente que não faz sentido fazer este nível de investimento. Não faz desde a primeira hora”, critica João Ferreira, defendendo que se trata de “financiamento público excessivo a um evento que tem uma natureza privada e lucrativa”.
Transferências são acima do que estava acordado
Mais: Ao fazer um levantamento das várias transferências feitas pela Câmara de Lisboa, os comunistas encontraram valores que ficam “acima do acordo” que foi celebrado por Fernando Medina em 2018 e que previa que a cidade contribuísse com três milhões de euros por ano até 2028, cabendo ao Estado central transferir oito milhões por ano no mesmo período.
Só em 2024, a transferência aprovada pela Câmara ultrapassa os sete milhões de euros. Na verdade, segundo as contas dos comunistas, só em 2020 o valor dos três milhões foi respeitado. Em todos os outros, as tranches foram sempre superiores a seis milhões de euros.
Valores elevados que fazem João Ferreira notar, comparando com o que foi gasto nas Jornadas Mundiais da Juventude, que neste caso o nível de escrutínio público fica muito aquém do que foi feito nesse evento da Igreja Católica, sendo que nas jornadas “havia uma lógica de investimento em infraestruturas que perduram no tempo”, ao contrário do que acontece neste caso.
Nestas contas das transferências, que Ferreira diz que “podem pecar por defeito, mas nunca por excesso”, falta contabilizar “serviços prestados mas não cobrados” pela autarquia ao evento.
O dinheiro vem do Fundo de Desenvolvimento Turístico que é financiado pela taxa turística, cobrada pela Câmara para melhorar a experiência turística na cidade, mas também para mitigar os efeitos da pressão da elevada carga turística a que a cidade está sujeita e cujos impactos se sentem por exemplo na limpeza e higiene urbana e na mobilidade.
João Ferreira tem dúvidas de que o investimento na Web Summit se enquadre nos propósitos deste fundo e diz que seria interessante “não deixar a torneira aberta até 2028 e ver em que medida é possível desvincular” a cidade do contrato celebrado em 2018 ou, pelo menos, não exceder os montantes que aí estavam previstos.