A Reunião da Comissão Federativa deliberou a marcação de eleições diretas intercalares para a liderança da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS, que acontecerão no dia 10 de janeiro. A decisão foi tomada por unanimidade. Menos claro é ainda quem vai a votos: Miguel Prata Roque e Pedro Pinto continuam a ser os candidatos na corrida. Filipe Santos Costa disse apenas estar a “ponderar” uma candidatura, mas continua à procura de apoios para avançar.
A hesitação de Filipe Santos Costa no anúncio de uma candidatura à FAUL que, horas antes da reunião era dada como certa, é explicada por um militante que esteve presente com a forma como a sala ficou “fria” durante a sua intervenção. Ainda sem certeza de ter os apoios para avançar, Santos Costa optou por ser contido nas declarações e admitir apenas estar a “ponderar” uma candidatura, segundo relatos de quem esteve na Comissão Federativa.
Os apoios a Pedro Pinto
Sem Miguel Prata Roque presente, houve várias intervenções a pedir a Pedro Pinto de Jesus, o vice-presidente de Ricardo Leão, para avançar declaradamente para a corrida, numa altura em que todos o dão como candidato. “Praticamente todos os militantes que falaram pediram ao Pinto que se candidatasse”, relata um socialista. Os apoios vieram de Loures, mas também de Mafra, de Odivelas e de Oeiras.
Ainda assim, há no PS quem tema uma luta que divida os socialistas no distrito de Lisboa a poucos meses das autárquicas e preferisse, por isso, um candidato de consenso ou, pelo menos, com hipótese de ter os outros a renunciar a dada altura em seu favor.
Depois da reunião desta quarta-feira, houve quem tivesse ficado convencido de que Filipe Santos Costa não conseguiria fazê-lo, até por ter pressão do setor de José Luís Carneiro para não avançar. E isso faz com que o nome de Carla Tavares, que é eurodeputada, volte a estar em cima da mesa, embora seja improvável que assuma a liderança da FAUL estando em Bruxelas.
A reunião serviu também para fazer o exorcismo do caso Ricardo Leão, com vários militantes a intervir para atacar a forma como o líder demissionário da FAUL foi condenado na praça pública por outros socialistas.
Leão diz que PS não pode “enfiar a cabeça na areia quando se trata de temas mais sensíveis de gerir”
O próprio Ricardo Leão escreve esta quinta-feira um artigo de opinião no Público a fazer a sua defesa, já depois de ter falado nos órgãos do partido, como disse sempre querer fazer.
“Reconheço que as afirmações que proferi foram um momento menos feliz. Não refletem o que quis dizer e muito menos o que penso. Deveria ter sido mais claro na minha comunicação. Aceito e reconheço isso”, começa por escrever Leão, que insiste na ideia de que o PS tem de apresentar soluções para os problemas que a extrema-direita põe na agenda.
“Humanismo, solidariedade e inclusão são valores que muito prezo e que têm pautado a minha conduta pessoal, profissional e política. São valores que fazem de mim um homem de esquerda. Mas ser de esquerda não pode significar enfiar a cabeça na areia quando se trata de temas mais sensíveis de gerir”, defende o presidente da Câmara de Loures.
“Quem, como eu, conhece bem as áreas metropolitanas sabe que acumulámos nos nossos territórios reservatórios de descontentamento onde começam, agora, a despontar sinais de revolta. Este não é um debate só nosso: atravessa toda a Europa”, diz o autarca, notando o trabalho que tem feito na habitação social e na entrega de refeições escolares às crianças mais desfavorecidas, tentando assim contrariar as críticas que lhe têm sido feitas nestas matérias.
“Na área da habitação, estamos a reabilitar mais de 1200 fogos (quase 50% do total do parque habitacional), vamos construir perto de 300 novas casas e implementámos várias medidas de apoio à habitação jovem. Temos, hoje, centenas de histórias bem-sucedidas de pessoas e famílias devidamente integradas na comunidade. O jogo do empurra de responsabilidades, em que cidadãos não pagavam a renda acusando a câmara de não arranjar as casas ou em que a autarquia assumia não proceder a obras de melhoria devido ao não pagamento de rendas, é passado. Essa realidade, em Loures, acabo”, declara.
Duarte Cordeiro defende aposta em Ricardo Leão
Essa imagem de autarca competente é, aliás, grande parte da defesa que muitos socialistas fazem de Ricardo Leão, no rescaldo da polémica.
Um deles é Duarte Cordeiro, que recusa a ideia de que o seu apoio a Leão se restrinja a lógicas de poder interno, elogiando o percurso que o autarca fez em Loures e notando que, enquanto liderou a FAUL, deu destaque não só ao atual presidente da Câmara de Loures, mas também a outras figuras, numa lógica de renovação.
“Quando fui Presidente da FAUL apostei no Ricardo Leão e no Fernando Paulo, de uma nova geração do PS, para serem deputados, e no caso do Ricardo, para ser coordenador dos deputados do PS. Ele desempenhou essa responsabilidade, a par de ter sido Presidente da Assembleia Municipal de Loures. Ambas lhe deram responsabilidade e visibilidade para mais tarde ganhar a Câmara de Loures. O Fernando Paulo, que representou uma outra aposta da FAUL, também ganhou a Câmara de Vila Franca de Xira”, afirma Duarte Cordeiro à VISÃO.
Duarte Cordeiro, que continua a ser descrito no PS como “homem que tem as tropas em Lisboa”, entende, contudo, que essa é uma forma muito limitadora de descrever o seu papel no partido e rejeita por completo que a sua proximidade a Ricardo Leão seja lida numa lógica aparelhística.
“Houve uma estratégia que apostou numa nova geração para assumir maiores responsabilidades. O Ricardo Leão já tinha inclusivamente experiência autárquica, porque já tinha sido vereador com a responsabilidade das finanças na Câmara de Loures. Ainda na linha das apostas da FAUL tivemos a valorização da Carla Tavares como eurodeputada. Isto só para dar exemplos mais evidentes. Podia também falar de um vasto percurso em que sempre valorizei pessoas com perfis muito diferentes, como o caso do Pedro Delgado Alves”, elenca Cordeiro, que se refere ao Presidente da Câmara de Loures como “um grande autarca”.
Duarte Cordeiro, que está no Secretariado Nacional do PS e que, por isso, deixou a liderança da FAUL, continua a ser reiteradamente apontado como um dos mais fortes candidatos a Lisboa. Ricardo Leão chegou mesmo a dizer que seria “o único com capacidade para abanar” Moedas na corrida autárquica.
Apesar disso, Duarte Cordeiro tem repetido não estar disponível para cargos públicos enquanto não ficarem encerrados os casos da Operação Tutti Frutti e da Operação Influencer, que o agastaram pessoalmente e o fizeram querer sair da ribalta política, mesmo que continue a ser um dos conselheiros mais próximos de Pedro Nuno Santos no PS.