Setenta e cinco por cento: esta é, segundo as contas do líder parlamentar do CDS, Paulo Núncio, a taxa de aprovação do Chega a medidas propostas pela esquerda parlamentar, na Assembleia da República (AR). O líder do CDS queixa-se de que a única estratégia do partido de André Ventura é impedir a Aliança Democrática (AD) de governar. E pode o País ser governado a partir do Parlamento? Com uma proposta do PS destinada a mexer no IRS, já apresentada e aprovada, e com o fim das portagens nas SCUT, também uma proposta do PS e igualmente apoiada pelos votos do Chega, o Governo corre o risco de ter de aplicar medidas que constam do programa… dos outros. Luís Montenegro acusou os socialistas de andarem com o Chega ao colo e desafiou-os a assumir a “coligação”. Alexandra Leitão, líder da bancada do PS, afirma que o papel da oposição não é, apenas, “opor-se”, mas “tentar influenciar a governação e apresentar propostas, medidas e legislação”, procurando que “estas sejam aprovadas”. De facto, sustenta o PS, os socialistas têm tantos deputados como o principal partido do Governo e não podem deixar de propor medidas “com medo de que o Chega permita que sejam aprovadas”. Isto, acrescentam as mesmas fontes, “é o Parlamento a funcionar normalmente e nada mais”. Em círculos socialistas ouvidos pela VISÃO, nega-se a existência de qualquer “coligação negativa”, uma “desculpa do Governo para não fazer nada”. Um deputado do PSD diz-nos que, então, o que existe é uma “coligação positiva” entre PS e Chega: “Já não se limitam a bloquear propostas do Governo e aprovam, às claras, as propostas um do outro.” Embora não haja registo de qualquer medida do Chega votada pelo PS, a verdade é que André Ventura se tem colado às medidas consideradas populares, como o fim das portagens, apresentadas pelo PS. A oposição lança, assim, as medidas populares e o Governo é que tem de as pagar. Na expressão de um membro do Executivo: “Uns comem a carne e os outros é que têm de roer os ossos.” Ou, em rigor, existe a esquerda, que tem 92 deputados, existe a direita, que dispõe de 88, e, depois, há o Chega.
O precedente dos professores