‘Cada deputado eleito pela AOC é uma espinha cravada na garganta do Cunhal.” Em 1975, esta frase, “pinchada” em paredes de todo o País, afirmava o partido dissidente do já outsider PCP-ml, de inspiração maoísta, como um feroz opositor do PCP e do líder histórico Álvaro Cunhal. Mas a Aliança Operária Camponesa (AOC), que apelava ao voto “no castelo” (por ter como símbolo umas muralhas com ameias), não elegeria qualquer deputado, até porque, devido às “perturbações causadas à ordem democrática”, viu a atividade suspensa e foi impedida de participar nas eleições para a Assembleia Constituinte de 25 de abril desse ano. Decorridos 12 meses da Revolução dos Cravos, ainda havia partidos, em Portugal, impedidos de ir a votos nas primeiras eleições livres: além da AOC, também o MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado) se viu igualmente suspenso, tal como os direitistas do PDC (Partido Democrata-Cristão). Um mês depois, o COPCON (Comando Operacional do Continente) de Otelo Saraiva de Carvalho, mandatado pelo governo de Vasco Gonçalves, faria uma razia, prendendo 400 militantes do MRPP, incluindo o dirigente Arnaldo Matos. Pretexto: o sequestro e tortura, por aquele partido da extrema-esquerda, do antigo combatente guineense das forças coloniais portuguesas, Marcelino da Mata. E logo apareceu escrita nas paredes do País a imortal frase: “Libertação imediata do camarada Arnaldo Matos, grande educador da classe operária.” Na verdade, os “meninos rabinos pinta-paredes”, como eram depreciativamente chamados por boa parte da população, numa tradução livre de “MRPP”, nunca mais foram os mesmos.
Campanha do voto em branco