Em entrevista à agência Lusa, no âmbito das eleições legislativas antecipadas de março, a cabeça-de-lista do Volt Portugal pelo círculo eleitoral de Lisboa, Inês Bravo Figueiredo, afirmou estar disponível para apoiar uma eventual maioria parlamentar à esquerda mas também à direita, defendendo “um compromisso” a longo prazo com “medidas a dez anos” para o país.
“Queremos diálogo entre os partidos porque acreditamos que há boas políticas de um lado e do outro e que, se nos juntarmos, se tivermos um diálogo, se fizermos as coisas em conjunto com o objetivo de melhorar Portugal, então as coisas vão correr melhor”, advogou.
Questionada sobre se estaria disposta a integrar uma maioria parlamentar à direita com o Chega, Inês Bravo Figueiredo rejeitou qualquer diálogo com este partido, aplicando a mesma regra ao PCP.
“Mas atenção: qualquer partido que diga que é anti Europa, que Portugal deve sair, que se deve isolar, que se deve fechar, nós achamos que em princípio não haverá abertura para falarmos, porque esse não é o caminho”, afirmou, traçando “linhas vermelhas” com os partidos liderados por André Ventura e Paulo Raimundo.
Inês Bravo Figueiredo explicou que o Volt — que nestas legislativas se candidata em 21 dos 22 círculos eleitorais – é uma força política que se define como “social, liberal e verde” e que não se revê na dicotomia tradicional de esquerda e direita, posicionando-se “ao centro” como partido federalista e europeísta.
A dirigente priorizou como primeira medida a apresentar no parlamento “a melhoria da gestão pública”, sustentando que “o Estado é muito burocrático, muito pesado e pouco eficiente”.
Para o Volt, a melhoria desta gestão “é condição base” para um melhor funcionamento das escolas, hospitais e justiça.
Entre as propostas do partido está a reposição integral do tempo de serviço dos professores, no prazo da próxima legislatura, e no setor da saúde, Inês Bravo Figueiredo manifestou-se a favor de parcerias público-privadas, “se os contratos forem bem negociados”.
Já quanto à crise na habitação, o Volt sugere atingir a meta de 10% de parque habitacional público até ao final da década.
Questionada sobre formas de financiamento de algumas das medidas enumeradas, a dirigente adiantou que o partido tem no seu programa “propostas concretas” para aumentar receita, nomeadamente, a criação de “um novo escalão de IVA para produtos de luxo”.
“Ou seja, produtos como carros de luxo, malas, barcos, em vez de pagarem 23% de IVA, pagarem um escalão acima. Queremos fazer o estudo, mas a sugestão é à volta dos 30%”, detalhou.
Interrogada sobre os protestos das forças de segurança, a candidata defendeu que o valor do suplemento de missão entre PJ, PSP e GNR deve ser o mesmo e manifestou apoio às reivindicações dos polícias.
Quanto a um eventual boicote ao processo eleitoral por parte desta classe, a dirigente respondeu que “as eleições devem ser conduzidas, até porque se as forças de segurança querem soluções, então vão precisar de um novo governo que lhes dê essas soluções”.
Na ordem do dia têm estado também os protestos dos agricultores. Inês Figueiredo manifestou preocupação com o facto de estes profissionais estarem a “vender os seus produtos às superfícies comerciais quase a preço de custo”, considerando que os agricultores deveriam reunir-se em “cooperativas ou em grupos que os representem” como forma de aumentar o seu poder negocial.
O Volt apoia as metas ecológicas da Política Agrícola Comum (PAC) mas considera que os agricultores têm que ser mais apoiados, não apenas com recursos financeiros mas também através de formação sobre “novas técnicas de produção que vão respeitar os objetivos da PAC”.
O Volt Europa é um partido federalista e “pan-europeu” que surgiu internacionalmente como movimento em 2017, como reação ao ‘Brexit’. O partido está presente em vários países europeus e conta com um eurodeputado no Parlamento Europeu, Damian Boeselager, eleito pelo Volt Alemanha em 2019.
O movimento surgiu em Portugal em dezembro de 2017 e foi oficializado como partido político pelo Tribunal Constitucional em junho de 2020.
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