Soa a acerto de contas, feito no centro de Lisboa, o cartaz que serve de lançamento da candidatura a deputado de Nuno Afonso, um dos fundadores do Chega – que entretanto bateu com a porta ao partido, há um ano. “Vamos limpar a direita bacoca”, com uma cruz a vermelho em cima da cara de André Ventura, surgiu, na tarde desta quarta-feira, na praça do Saldanha, na capital.
Este cartaz parece seguir a mesma estratégia que o Chega tem aplicado nos seus outdoors – em que as figuras alvo de reprovação e condenação por parte do partido têm sempre uma cruz vermelha em cima do rosto.
“André Ventura também usa uma cruz nos seus cartazes, com o lema de que é preciso ‘Limpar Portugal’. Ora, para limpar Portugal é preciso que comece por limpar a própria casa”, disse Nuno Afonso, à VISÃO, assegurando que “este é apenas um de vários cartazes que vão aparecer um pouco por todo o distrito de Lisboa”.
Aquele que é agora vereador independente em Sintra (eleito pelo Chega nas autárquicas de 2021) lembrou que “o primeiro cartaz que o Chega teve [que tinha como alvo o então presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues]” foi criação sua. Em 2023, desvinculou-se do Chega, após profundas divergências com a liderança de Ventura. Na altura, chegou a apontar à VISÃO que o líder da extrema-direita estava a “venezuelizar” o partido.
Apesar de o seu nome ter sido apontado como uma possível aquisição do PSD para estas legislativas, Nuno Afonso, de 48 anos, corre como cabeça do lista da coligação Alternativa 21, formada pelo partidos Aliança, que foi fundado por Pedro Santana Lopes, e MPT (Movimento Partido da Terra).
“Encabeço uma lista de pessoas que defendem, e acreditam, numa alternativa liberal na economia e conservadora nos costumes. E que, acima de tudo, é a direita com quem se pode falar, que respeita toda a gente e apresenta propostas”, garante.
Se Afonso avança em Lisboa, já o presidente do Aliança, Jorge Nuno Sá – antigo líder da JSD e ex-deputado social-democrata-, encabeça a lista desta coligação em Setúbal. O presidente do MPT, Pedro Soares, é rosto desta formação política em Santarém.
No total, nas legislativas de 2022, o Aliança e o MPT tiveram cerca de 2100 votos. O PAN para conseguir um deputado precisou de 23 mil votos. Já o Chega elegeu quatro parlamentares, graças a 91 899 votos. Nuno Afonso tem “a noção das dificuldades”, mas relativiza: “estive na campanha de André Ventura, em 2019, que conseguiu eleger-se com cerca de 20 mil votos. Tenho a perfeita consciência do trabalho que é preciso fazer. Só que consegui ser eleito no segundo maior concelho do País; não me assustam as dificuldades”, conclui.