André Ventura já está em campanha, e avisa ao que vem. O líder aproveitou o discurso de encerramento da VI Convenção Nacional do Chega para, perante o Centro Cultural de Viana do Castelo lotado, ‘alertar’ os militantes do partido que é hora de ‘abrir portas’ a “todos os que nos procuram” dos outros partidos da direita portuguesa, como PSD, CDS ou IL.
Dando como exemplo nomes como os de Henrique Freitas, ex-secretário de Estado dos governos de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, Nuno Simões de Melo e Diogo Prates (ex-IL) ou António Pinto Pereira (ex-PSD), que chegou a ser candidato social-democrata à Câmara de Sintra, André Ventura garantiu que “o ADN do Chega não vai mudar (…) com a entrada de centenas, milhares de pessoas que vieram do PSD e do CDS”. “Hoje, essas pessoas já fazem parte do nosso ADN”, sublinha.
“Não devemos fechar as portas a quem nos procura. Aqueles que, hoje, dizem, ‘eu errei, estive num sitio diferente, mas agora encontrei um partido diferente’ são, sim, um símbolo do nosso crescimento, e contribuíram para que o Chega tivesse, nestes três dias, o maior congresso de 2024 da democracia portuguesa”. Seria a primeira provocação de André Ventura ao PS de Pedro Nuno Santos.
O ataque ao PS de Pedro Nuno Santos
Pedro Nuno Santos é a partir de agora o alvo. E, se haveria dúvidas, André Ventura confirmou: a “corrupção” vai ser a palavra da campanha do Chega. Depois de, já hoje, o recém-eleito secretário-geral do PS ter dito que o Chega se apresenta ao país com “mentiras” e “manipulação”, Ventura atirou a Pedro Nuno Santos. “Que autoridade tem um homem que governava instituições por WhatsApp, que atribuiu uma indemnização de meio milhão de euros a quem não o merecia [Alexandra Reis], que fez negociatas com o BE e o PCP para comprar os CTT, que não vale nada…”. “As mentiras e a manipulação não cabem neste congresso, mas cabem que nem uma luva a si [Pedro Nuno Santos] e ao PS”, afirmou.
Era tempo de atacar o PS. André Ventura introduziu a palavra “corrupção”. O povo gostou. “O governo de António Costa caiu por ‘corrupção’, caiu por causa do dinheiro em envelopes e livros”. “A queda do governo [de António Costa] é o fim do vírus que se espalha pela sociedade portuguesa, muito mais do que a Covid-19 se espalhou”, referiu. Insistindo no argumento, André Ventura prometeu ser “absolutamente radical contra a corrupção, contra o compadrio que tomou conta deste país”, e deixou a promessa que, se for governo, “todos os políticos condenados por corrupção ficarão impedidos, para sempre, de exercerem qualquer cargo públicos; e que um governante ou autarca não possa trabalhar em empresas a quem adjudicou obras ou teve outras relações”. Seguiu-se a lista de promessas.
Promessas para todos (ou quase todos)
Apesar de Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, ter ontem prometido “acabar com o IMI, o IUC, manter o IVA 0% para produtos portugueses e essenciais”, André Ventura promete ‘abrir os cordões à bolsa’ para apoiar todos os descontentes da República, ou quase todos: forças de segurança, professores, ex-combatentes, pensionistas vão “ganhar todos”, diz Ventura.
“O governo decidiu discriminar, espezinhar e humilhar propositadamente [as forças de segurança]. Fazer isto é dizer que este é um país onde é melhor ser bandido do que polícia. A primeira coisa que a direita vai fazer, se chegar ao poder [no dia 10 de março] é equiparar os subsídios da PSP e da GNR aos da PJ”, afirmou.
Seguiram-se os professores, que, com o Chega no poder, “vão, em quatro anos, recuperar integralmente o tempo de serviço”; passou-se para os ex-combatentes, que “vão passar a ser respeitados e valorizados”; e concluiu-se com os pensionistas que, “em seis anos, vão deixar de ter pensões abaixo do salário mínimo nacional”. Dinheiro para tudo, vai-se buscar aos ódios de estimação da direita radical e populista.
“Vamos cortar na ideologia de género, nos observatórios e institutos com cartão do PS, nas deslocações dos políticos, na enormidade de cargos políticos que existem” e, claro, “na corrupção”, palavra-chave que se ausenta, mas nunca anda por muito longe. Outro problema, a imigração. “Só deve vir quem vem por bem (…) temos de regular a imigração em Portugal, não devemos deixar entrar todos e de qualquer maneira (…) devemos ter uma imigração que nos faça mais ricos e não que nos faça mais pobres”. “A reversão do SEF” é outra promessa; “ninguém pode ser português sem saber falar a língua e conhecer a cultura [portuguesas]”. “Cortar” nas verbas para os beneficiários de Rendimento Social de Inserção (RSI) é mais outra.
Por fim, as soluções para a Saúde. O Chega quer reabilitar as PPP – Parcerias Público-Privadas- nos hospitais, e se o SNS não conseguir cumprir os tempos de espera, entram em ação os privados, mas paga o Estado português. Ventura tem palavra-chave e muitos outros temas que não larga.
“Saiam de casa para votar”
Depois de, André Ventura ter sido reconduzido na presidência do Chega, com 98,9% dos votos, neste domingo, os 800 delegados presentes em Viana do Castelo votaram e elegeram os restantes órgãos do partido. E, sem surpresas, a escolha de André Ventura no único sufrágio disputado por mais do que uma lista recebeu larga preferência.
A direção nacional foi eleita com 90,2% dos votos; a lista liderada por João Aleixo para a Mesa Nacional e o Conselho Nacional obteve 89%; a lista para o Conselho de Jurisdição, encabeçada por Bernardo Pessanha, teve 83,5% dos votos e, por fim, para o Conselho Nacional, foi eleito João Tilly, com 80,1%, naquela que foi a única votação disputada por mais do que uma lista. Tilly coloca 27 elementos no Conselho Nacional. A lista liderada por Israel Ponte não foi além dos 11,7% e 3 membros eleitos.
Feitas as contas, a VI Convenção Nacional do Chega fechou de forma apoteótica, com música nas colunas num volume não recomendável, confetis com as cores nacionais, fumos, luzes de discoteca, muitas bandeiras do Chega e de Portugal e a cúpula do Chega em peso em cima do palco, dançando e acenando ao resto da sala.
As últimas palavras de André Ventura foram um apelo ao voto nas próximas legislativas. “Acreditem que podemos vencer. Que ninguém fique em casa! Saiam para votar! Se não formos votar voltaremos a entregar o poder ao PS e isso seria o pior que poderia acontecer às gerações futuras. Este é o nosso momento! Estou preparado para ser primeiro-ministro de Portugal!”, afirmou. As últimas palavras de Ventura foram difíceis de decifrar, face à estrondosa ovação da multidão. Dia 10 de março, os portugueses têm a palavra.