André Ventura já está em campanha, e avisa ao que vem. O líder aproveitou o discurso de encerramento da VI Convenção Nacional do Chega para, perante o Centro Cultural de Viana do Castelo lotado, ‘alertar’ os militantes do partido que é hora de ‘abrir portas’ a “todos os que nos procuram” dos outros partidos da direita portuguesa, como PSD, CDS ou IL.
Dando como exemplo nomes como os de Henrique Freitas, ex-secretário de Estado dos governos de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, Nuno Simões de Melo e Diogo Prates (ex-IL) ou António Pinto Pereira (ex-PSD), que chegou a ser candidato social-democrata à Câmara de Sintra, André Ventura garantiu que “o ADN do Chega não vai mudar (…) com a entrada de centenas, milhares de pessoas que vieram do PSD e do CDS”. “Hoje, essas pessoas já fazem parte do nosso ADN”, sublinha.
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2024/01/240114_20240114-_M_10940-1464x1080.jpg)
“Não devemos fechar as portas a quem nos procura. Aqueles que, hoje, dizem, ‘eu errei, estive num sitio diferente, mas agora encontrei um partido diferente’ são, sim, um símbolo do nosso crescimento, e contribuíram para que o Chega tivesse, nestes três dias, o maior congresso de 2024 da democracia portuguesa”. Seria a primeira provocação de André Ventura ao PS de Pedro Nuno Santos.
O ataque ao PS de Pedro Nuno Santos
Pedro Nuno Santos é a partir de agora o alvo. E, se haveria dúvidas, André Ventura confirmou: a “corrupção” vai ser a palavra da campanha do Chega. Depois de, já hoje, o recém-eleito secretário-geral do PS ter dito que o Chega se apresenta ao país com “mentiras” e “manipulação”, Ventura atirou a Pedro Nuno Santos. “Que autoridade tem um homem que governava instituições por WhatsApp, que atribuiu uma indemnização de meio milhão de euros a quem não o merecia [Alexandra Reis], que fez negociatas com o BE e o PCP para comprar os CTT, que não vale nada…”. “As mentiras e a manipulação não cabem neste congresso, mas cabem que nem uma luva a si [Pedro Nuno Santos] e ao PS”, afirmou.
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2024/01/240114_20240114-_M_11072-1464x1080.jpg)
Era tempo de atacar o PS. André Ventura introduziu a palavra “corrupção”. O povo gostou. “O governo de António Costa caiu por ‘corrupção’, caiu por causa do dinheiro em envelopes e livros”. “A queda do governo [de António Costa] é o fim do vírus que se espalha pela sociedade portuguesa, muito mais do que a Covid-19 se espalhou”, referiu. Insistindo no argumento, André Ventura prometeu ser “absolutamente radical contra a corrupção, contra o compadrio que tomou conta deste país”, e deixou a promessa que, se for governo, “todos os políticos condenados por corrupção ficarão impedidos, para sempre, de exercerem qualquer cargo públicos; e que um governante ou autarca não possa trabalhar em empresas a quem adjudicou obras ou teve outras relações”. Seguiu-se a lista de promessas.
Promessas para todos (ou quase todos)
Apesar de Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, ter ontem prometido “acabar com o IMI, o IUC, manter o IVA 0% para produtos portugueses e essenciais”, André Ventura promete ‘abrir os cordões à bolsa’ para apoiar todos os descontentes da República, ou quase todos: forças de segurança, professores, ex-combatentes, pensionistas vão “ganhar todos”, diz Ventura.
“O governo decidiu discriminar, espezinhar e humilhar propositadamente [as forças de segurança]. Fazer isto é dizer que este é um país onde é melhor ser bandido do que polícia. A primeira coisa que a direita vai fazer, se chegar ao poder [no dia 10 de março] é equiparar os subsídios da PSP e da GNR aos da PJ”, afirmou.
Seguiram-se os professores, que, com o Chega no poder, “vão, em quatro anos, recuperar integralmente o tempo de serviço”; passou-se para os ex-combatentes, que “vão passar a ser respeitados e valorizados”; e concluiu-se com os pensionistas que, “em seis anos, vão deixar de ter pensões abaixo do salário mínimo nacional”. Dinheiro para tudo, vai-se buscar aos ódios de estimação da direita radical e populista.
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2024/01/240114_20240114-_M_11140-1600x1067.jpg)
“Vamos cortar na ideologia de género, nos observatórios e institutos com cartão do PS, nas deslocações dos políticos, na enormidade de cargos políticos que existem” e, claro, “na corrupção”, palavra-chave que se ausenta, mas nunca anda por muito longe. Outro problema, a imigração. “Só deve vir quem vem por bem (…) temos de regular a imigração em Portugal, não devemos deixar entrar todos e de qualquer maneira (…) devemos ter uma imigração que nos faça mais ricos e não que nos faça mais pobres”. “A reversão do SEF” é outra promessa; “ninguém pode ser português sem saber falar a língua e conhecer a cultura [portuguesas]”. “Cortar” nas verbas para os beneficiários de Rendimento Social de Inserção (RSI) é mais outra.
Por fim, as soluções para a Saúde. O Chega quer reabilitar as PPP – Parcerias Público-Privadas- nos hospitais, e se o SNS não conseguir cumprir os tempos de espera, entram em ação os privados, mas paga o Estado português. Ventura tem palavra-chave e muitos outros temas que não larga.
“Saiam de casa para votar”
Depois de, André Ventura ter sido reconduzido na presidência do Chega, com 98,9% dos votos, neste domingo, os 800 delegados presentes em Viana do Castelo votaram e elegeram os restantes órgãos do partido. E, sem surpresas, a escolha de André Ventura no único sufrágio disputado por mais do que uma lista recebeu larga preferência.
A direção nacional foi eleita com 90,2% dos votos; a lista liderada por João Aleixo para a Mesa Nacional e o Conselho Nacional obteve 89%; a lista para o Conselho de Jurisdição, encabeçada por Bernardo Pessanha, teve 83,5% dos votos e, por fim, para o Conselho Nacional, foi eleito João Tilly, com 80,1%, naquela que foi a única votação disputada por mais do que uma lista. Tilly coloca 27 elementos no Conselho Nacional. A lista liderada por Israel Ponte não foi além dos 11,7% e 3 membros eleitos.
Feitas as contas, a VI Convenção Nacional do Chega fechou de forma apoteótica, com música nas colunas num volume não recomendável, confetis com as cores nacionais, fumos, luzes de discoteca, muitas bandeiras do Chega e de Portugal e a cúpula do Chega em peso em cima do palco, dançando e acenando ao resto da sala.
![](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2024/01/240114_20240114-_M_10997-1600x960.jpg)
As últimas palavras de André Ventura foram um apelo ao voto nas próximas legislativas. “Acreditem que podemos vencer. Que ninguém fique em casa! Saiam para votar! Se não formos votar voltaremos a entregar o poder ao PS e isso seria o pior que poderia acontecer às gerações futuras. Este é o nosso momento! Estou preparado para ser primeiro-ministro de Portugal!”, afirmou. As últimas palavras de Ventura foram difíceis de decifrar, face à estrondosa ovação da multidão. Dia 10 de março, os portugueses têm a palavra.