Embalado pela música New Age [trad.: Nova Era], de Keith Merrill, Pedro Nuno Santos assumiu, no final do congresso que o entronizou como novo líder do PS, em Lisboa, este domingo, que vem para mudar o “capítulo”. Se António Costa tem se denominado como um “fazedor”, o seu sucessor quer também apropriar-se de tal atributo. O secretário-geral dos socialistas comprometeu-se, se sair vitorioso das urnas a 10 de março, a levar a cabo fortes reformas nas áreas que mais têm colocado a gestão socialista na berlinda pelos piores motivos: no Serviço Nacional de Saúde (SNS), na escola pública ou na habitação.
Mas, com o ministro da Economia, António Costa e Silva, presente na primeira fila da reunião magna, a maior lista de compromissos de Pedro Nuno foi sobre tal setor, principalmente no que toca ao apoio às empresas e à internacionalização da produção nacional. O salário mínimo também mereceu destaque: se Costa queria chegar aos 900 euros, até 2026, Pedro Nuno espera chegar “pelo menos” aos mil, no final da legislatura, em 2028.
“Quando formos governo, não vamos pôr tudo em causa. Não andamos a brincar às reformas; não mudamos por mudar. Mas nas áreas que mais preocupam o nosso povo, precisamos de dar um sinal do que queremos fazer no futuro, em resposta aos seus problemas“, apontou, no encerramento do congresso.
Para Pedro Nuno, tem sido a direita a responsável por transformar “a principal função de um político – tomar decisões – numa coisa negativa, errada, indesejada. Mas, é compreensível, para a direita, decidir representa um pesadelo“.
Assim, se Costa escreveu “um capítulo inteiro” nos últimos oito anos, o secretário-geral do PS disse que “esse capítulo está prestes a ser encerrado”. “Agora, é a nossa vez de iniciar uma nova etapa. E é sobre nós que recai a enorme responsabilidade de escrever um novo capítulo no livro da governação do PS e do desenvolvimento do nosso País”, disse.
Coincidentemente, tendo Costa aludido, na sexta-feira, primeiro dia do congresso, ao facto de Pedro Nuno ser o primeiro líder do PS que nasceu já depois do 25 de Abril, o secretário-geral defendeu, este domingo, que “Abril não é só passado. É também futuro”. Depois, até sinalizar quais as linhas orientadoras do seu programa eleitoral, insistiu em chavões que soaram aos próximos lemas de campanha, entre os quais o vocábulo “Juntos”.
Economia: apoiar com seletividade e novas regras
A área que Pedro Nuno colocou à cabeça das que mais precisam de mudanças foi a economia, comprometendo-se com reformas na forma como, há muitos anos, são atribuídos apoios, porque, referiu, “o Estado tem a obrigação de fazer escolhas quanto aos setores e tecnologias a apoiar”. “O problema da pulverização dos apoios é que, depois, não há poder de fogo, não há capacidade do Estado de acompanhar, não há recursos suficientes para transformar o que quer que seja”, disse, acenando também, entre outras medidas, com uma “programa de desburocratização e simplificação” para o setor, “um programa para a capitalização” das empresas e melhorar o formato da internacionalização do tecido produtivo.
Além do salário mínimo nacional (SMN), que sob uma gestão socialista a quatro anos, é para aumentar até aos mil euros; sendo que Pedro Nuno frisou ter a receita para contrariar o esmagamento que os salários médios têm revelado, aproximando-se dos valores do SMN: “deveremos rever o acordo de rendimentos recentemente negociado em concertação social, de modo a que ao aumento do salário mínimo possa estar associado o aumento dos salários médios”.
Se em relação às pensões pouco mais adiantou que “uma subida mínima para as mais baixas”, já em relação à Segurança Social arrancou um aplauso do congresso ao garantir que vai implementar “uma reforma das fontes de financiamento do sistema”, que “não dependa apenas das contribuições pagas sobre o trabalho”.
Depois, na habitação, uma área que tutelou nos primeiros meses do Governo da maioria absoluta, deixou claro que pretende “regular melhor o mercado” de arrendamento. Ou seja, “definir, com o INE [Instituto Nacional de Estatística], um novo indexante de atualização das rendas que tenha em consideração a evolução dos salários”, explicou, justificando que “a evolução das rendas não pode estar desligada da evolução dos salários”.
Mais dentistas no SNS e professores a ganhar mais
“Nos setores da saúde e da educação, há mudanças estruturais em curso postas em prática pelo atual governo, que não desperdiçaremos”, disse, para logo depois salientar que “há mais trabalho por fazer”, como criar uma carreira de médicos dentistas no SNS e “aumentar os salários de entrada na carreira docente”.
Resumindo, ao contrário de uma direita que associou à “inexperiência e impreparação governativa”, Pedro Nuno garantiu que quer mudar as coisas, mas com estabilidade, contrariando aquilo de que o PSD o acusa. Estabilidade não é inércia, não é paralisia, não é indecisão. “Estabilidade é, antes, a capacidade de uma nova liderança manter um rumo disciplinado e em coerência com o passado e com os nossos valores, sem surpresas e sem rupturas“, concluiu Pedro Nuno Santos, num congresso em que fez questão de aparecer sempre sem gravata.