Dizem os mais antigos que “quem espera por sapatos de defunto, anda toda a vida descalço”. Se para um bom entendedor o pensamento subjacente a tal ditado popular é muito claro, já para o filho de um empresário do ramo do calçado e “neto de sapateiro”, como é o caso do novo líder do PS, Pedro Nuno Santos, é mais do que óbvio. Após oito anos consecutivos, em que seguiu de muito perto o passo de António Costa, a saída do Governo, em dezembro de 2022, parecia atirar para um horizonte longínquo a possibilidade de vir a disputar a liderança socialista. Mas eis que, há um mês, a demissão do primeiro-ministro, devido a um caso judicial, permitiu ao ex-responsável pelas Infraestruturas e Habitação repescar o seu calçado de sprinter, bater José Luís Carneiro – o mais popular governante da maioria absoluta e que entrou na corrida à sucessão – e ser eleito secretário-geral, com 62% dos votos socialistas.
Será que, afinal, eram premonitórios aqueles sapatos desportivos amarelos, com que Pedro Nuno se apresentou no congresso de Portimão, no verão de 2021? Apesar de ter chegado meia hora atrasado, também aquelas palmadinhas que deu nos ombros de cada um dos potenciais sucessores de Costa, que estavam formalmente aperaltados e sentados junto ao secretário-geral, ganham agora todo um outro sentido, para quem se dedicar à análise comportamental de um velocista. Ainda que, na verdade, não tenha sido na corrida que Pedro Nuno Santos se destacou desde pequeno, mas sim no viet-vo-dao, uma arte marcial vietnamita, em que o praticante até está descalço.