Quase na reta final do primeiro dia de reunião magna do Bloco, Francisco Louçã levou os delegados a recuarem a 30 de janeiro de 2022, para apontar que muitos dos que ajudaram o PS a chegar à maioria absoluta já devem estar arrependidos perante aquilo que classificou de “desastre” governativo.
“Numa noite de inverno do ano passado, o PS festejou a sua maioria absoluta. Houve alguns menos rosa que suspiraram de alívio: ‘evitamos um governo com a extrema-direita’ – pensaram. Um ano depois, a maioria absoluta é um fantasma, pergunto então a quem festejou nessa noite, o que é fizeram da vitória e onde está a estabilidade que prometeram a Portugal? Pergunto-vos: alguém se lembra de tanta encrenca como as destes meses, salvo, talvez, com Durão Barroso e Santana Lopes?”, atirou Louça, que, entre as várias polémicas, lembra o de um “ministro promovido graças a um episódio insólito e lamentável”.
Para aquele que liderou o BE até 2012, no tempo da Gerigonça não houve tais casos como o de Miguel Alves, que teve de se demitir na senda não só de um caso judicial, como de um projeto de um centro transfronteiriço que patrocinou enquanto autarca de Caminha: “Alguém se lembra de na gerigonça ter havido um homem chamado para coordenar o Governo e saiu um par de semanas depois por umas contas estrambólicas?.
Na verdade, Louçã lançou diversas questões a quem contribuiu para a maioria absoluta de António Costa. “Pergunto-vos se festejaram nessa noite o mais importante: ia haver estabilidade na Saúde; o que era preciso era um CEO. Temos um CEO [Fernando Araújo], e como é que chegámos a quase 1,8 milhões de pessoas sem médico de família, porque fecham ao fim de semana as urgências pediátricas e os hospitais do Algarve são um susto? Quem votou no PS, não se perguntará como é que a inflação alimentar é o dobro da espanhola, ou como é os bancos fazem 10 milhões de euros por dia fazendo os empréstimos mais caros da Europa e pagando os juros mais baixos de depósito? Quem votou no PS sabe que a Suécia rompeu um acordo fiscal com Portugal por não aceitar que os seus contribuintes só paguem 10% de IRS e com isso perdemos cada ano o triplo do que seria necessário para acertar a carreira dos professores?”, perguntou e apontou a resposta – “Não sabe”.
No pouco tempo que teve de intervenção, Louçã concluiu que “o desastre da maioria absoluta está a corroer a confiança democrática; e o perigo não vem de fora, vem dentro”.