Os lençóis do abrigo, no piso subterrâneo do hotel, cheiram a tubo de escape. Penso na rapariga que tocava violino à janela quando estacionámos à frente do prédio. Tinha duas tranças pelas espáduas e oferecia música a quem passava em troca de aplausos. O reconhecimento é um bom agasalho. Amanhã trarei a almofada comigo, por enquanto uso sacos de chá junto do nariz que bloqueiam parcialmente o monóxido de carbono.
Colocaram camas a poucos metros da zona de estacionamento, mesas com cadeiras à volta e alguns pufes. Luxuoso, se considerarmos por comparação as estações de metro ou as caves sem aquecimento que proliferam pela cidade. O alarme de ataque aéreo soou às duas e quatro minutos da manhã. É uma voz autoritária, levemente desagradável (mais desagradável a cada repetição), ativada pela aplicação dos telemóveis e reproduzida pelas colunas de som dos quartos e corredores. “Alerta, alerta, dirija-se a um abrigo!”