Quando Mariana Mortágua disse, pela primeira vez, de passagem, que era lésbica, fê-lo para esvaziar uma “perseguição política”, que assumiu que iria “continuar e até subir de tom” à medida que se aproxima a sua provável eleição como líder do Bloco de Esquerda. “Seja porque sou mulher, seja porque sou de esquerda, seja porque sou uma mulher lésbica, seja porque sou filha de um resistente antifascista, seja porque, aparentemente, tenho o dom de incomodar algumas pessoas com muito poder, sei que, infelizmente, para algumas pessoas, vale tudo na política”, lamentou, na semana passada, durante um debate televisivo no programa Linhas Vermelhas, da SIC Notícias.
A deputada bloquista assumiu a sua homossexualidade para evitar ruído, o que sugere – por muita naturalidade que se coloque no anúncio público – uma preocupação com a hipótese de a orientação sexual de um político ser usada contra si, especialmente com o crescimento de movimentos e partidos populistas. A perceção do eleitorado é mais difícil de aferir, dizem politólogos à VISÃO, mas não será de descurar que, para certos votantes, como os do BE, esta “coragem seja digna de valorização”, interpreta José Filipe Pinto, professor de Ciência Política da Universidade Lusófona.