António Costa aceita a versão de João Galamba. Aos jornalistas – e depois de uma maratona de reuniões –, o primeiro-ministro considerou que Frederico Pinheiro é “única” e “exclusivamente” responsável pelo que descreveu como um “deplorável” incidente ocorrido no Ministério das Infraestruturas, na noite de 26 de abril. A culpa foi de quem “agrediu” e “roubou” o computador do Estado, defende o chefe do Governo.
Mesmo pedindo desculpa aos portugueses pela polémica, António Costa iliba João Galamba. O primeiro-ministro diz “ter confiança de ter acertado na minha decisão” [de não aceitar a demissão do governante], afirmando que “prefere “estar de bem com a sua consciência”, mesmo admitindo que a manutenção de João Galamba no Governo possa “contrariar” a generalidade das opiniões de comentadores e do restante universo político – incluindo no interior do próprio PS.
Sobre a intervenção do Serviço de Informações e Segurança (SIS) neste caso – que, alegadamente, terá sido acionado pelo Governo para recuperar o computador do Estado com “documentos classificados” que Frederico Pinheiro terá levado ‘à força’, para sua casa, do Ministério das Infraestruturas, ao final do dia em que foi demitido –, António Costa garante que “não houve instrução de nenhum membro do Governo” para acionar o SIS.
O primeiro-ministro refere, apenas, que “foi feita a denúncia às autoridades” e que, depois de informada a secretária-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), o SIS “agiu no exercício próprio das suas competências”.
Um caso, duas versões. Quem mente?
António Costa garante que acredita em João Galamba, depois de conversar, olhos nos olhos, com o (afinal) ministro das Infraestruturas. O primeiro-ministro diz que se recusa a “violentar a sua consciência” e a “dançar a dança do populismo” e que, por isso mesmo, “em consciência”, escolheu “ir contra o sabor da maré”.
Recorde-se que a polémica envolvendo João Galamba surge depois de o ministro das infraestruturas ter exonerado o adjunto Frederico Pinheiro por “comportamentos incompatíveis com os deveres e responsabilidades” inerentes ao exercício das funções. O ministro das Infraestruturas acusa o ex-adjunto de lhe ter escondido as notas da polémica “reunião secreta”, realizada a 17 de janeiro, entre a CEO da TAP, Christine Ourmiéres-Widener, e membros do Governo e do grupo parlamentar do PS – que, alegadamente, terá servido para preparar a audição da então presidente da transportadora na comissão parlamentar de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação –, entretanto, pedidas pela comissão parlamentar de inquérito (CPI).
Frederico Pinheiro nega esta versão. O ex-adjunto diz que, pelo contrário, terá sido o próprio ministro João Galamba a tentar esconder as notas da “reunião secreta” à CPI e acrescenta que, afinal, não houve uma, mas sim duas reuniões preparatórias, entre TAP e Governo, tendo em vista a audição parlamentar de Christine Ourmiéres-Widener – e que João Galamba esteve mesmo neste primeiro encontro, tendo informado a ex-CEO da TAP da necessidade de se reunir, também, com o grupo parlamentar do PS.
Foi nesse encontro que João Galamba terá informado Christine Ourmières-Widener de que iria ter “uma reunião preparatória” da sua audição com o grupo parlamentar do PS, garante o ex-adjunto.
João Galamba continua a desmentir esta versão, como o fez no próprio comunicado da sua demissão.
Polémica, continua ainda a ser a intervenção do Serviço de Informações e Segurança (SIS) que, alegadamente, terá sido acionado pelo Governo para recuperar o computador do Estado com “documentos classificados” que Frederico Pinheiro terá levado do Ministério das Infraestruturas, ao final do dia em que foi demitido.
Entretanto, PSD e Chega querem que o ex-adjunto seja ouvido na comissão de inquérito. No requerimento, os sociais-democratas pedem mesmo que essa audição se realize “com máxima urgência”. Frederico Pinheiro já manifestou disponibilidade para falar à CPI da TAP.