Qual foi a razão para, de acordo com testemunhos prestados no Parlamento, a Atlantic Gateway ter apresentado uma alteração ao plano de capitalização da TAP divulgado durante a fase de privatização, colocando em cima da mesa a utilização dos chamados “fundos Airbus”?
Para a Atlantic Gateway, foi sempre clara a origem dos fundos utilizados na capitalização da TAP, parte dos quais resultava de um apoio que a Airbus tinha acordado disponibilizar para a realização do plano de reestruturação operacional e modernização da frota proposto pela Gateway. Entre junho e novembro de 2015, houve pedidos da Parpública para que ficasse documentada a estrutura, e apresentámos tudo o que nos foi solicitado pelos interlocutores do setor público e seus advisors, porque não havia nada a esconder. Antes pelo contrário, pois o plano de capitalização conseguido foi excelente para a TAP. No projeto apresentado desde a primeira hora, estava previsto que os montantes entrassem na TAP como capitais próprios, e foi assim que aconteceu. Foi ainda prevista uma salvaguarda adicional de que não poderia haver reembolso desses fundos antes de 30 anos. É de notar que a TAP não reembolsou os fundos injetados pela Atlantic Gateway, e são hoje créditos detidos pelo Estado.
Houve dificuldades, por parte de algum dos acionistas do consórcio Atlantic Gateway, em mobilizar fundos para a capitalização?
Não houve qualquer dificuldade em providenciar os fundos a aportar pela Atlantic Gateway conforme estava previsto. Na verdade, a urgência da capitalização devia-se às imensas dificuldades financeiras da TAP e ao estado dramático da sua tesouraria (agravado pelas múltiplas greves do período pré-privatização), que obrigaram a que os fundos da capitalização fossem disponibilizados até antes do prazo máximo previsto. Estas dificuldades levaram a que o fundo norte-americano de investimento Cerberus, que tinha planeado capitalizar a TAP através de um financiamento de 120 milhões, depois de analisar a situação financeira da companhia aérea, tivesse desistido de investir. Tivemos de convencer a Azul a assumir esse financiamento, no montante de 90 milhões, e que até hoje não foi reembolsado.