Fernando Araújo sabia que teria de fazer omeletas quase sem ovos, quando aceitou ser responsável pela parte técnica do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Sem profissionais e meios em número suficiente, decidiu encerrar serviços de urgência em momentos de menor atividade, concentrando os recursos disponíveis em determinados hospitais, sob os protestos sonoros de alguns médicos, enfermeiros e políticos. Esta foi apresentada como uma solução provisória, que veio a ser renovada, sem que se conheça uma intenção de fazer marcha atrás num futuro próximo. Cem dias (comemorados na próxima terça-feira, 11) depois, a direção executiva do SNS (DE-SNS), criada para enfrentar os problemas estruturais da saúde pública, continua a tapar as feridas com pensos rápidos.
Longe dos holofotes mediáticos, o CEO do SNS e a sua equipa de gestão exploram o aumento das respostas de proximidade (como as unidades locais de saúde, ULS) para desviar as pessoas da porta mais fácil, a das urgências. Todavia, o tempo não congela: aproxima-se o verão, época cronicamente difícil de gerir com as férias dos profissionais de saúde, e o ministro Manuel Pizarro tem até junho para dar um sinal aos médicos – em negociações pela revisão das carreiras –, sob pena de não contar com a boa vontade da classe numa altura do ano crítica.