A líder do BE levou o primeiro-ministro a reconhecer que o caso de Alexandra Reis não é menor, mas António Costa regressou ao Parlamento com a mesma tática com que tem enfrentado as criticas à crise do Governo e insistiu que a sua principal preocupação é responder aos problemas dos portugueses, controlando os custos de vida e dando-lhes mais rendimentos para fazer face à inflação. “Até hoje, nunca fui interpelado por um cidadão na rua que me tivesse perguntado se A ou B ainda eram secretários de Estado ou tinham deixado de ser”, disse António Costa, durante o debate da moção de censura, apresentada pela Iniciativa Liberal ao Executivo, que foi rejeitada.
João Cotrim de Figueiredo expôs ao hemiciclo que não convocou este debate de “ânimo leve”. Esta é a “ferramenta parlamentar para mostrar que o melhor para o país é mudar de Governo”, explicou o líder da IL, que acredita que o “Governo se tornou uma fonte de instabilidade” tal que não tem condições para levar até ao fim o seu mandato.
Justificou-o com a crise na saúde pública, citando números do Portal do SNS de portugueses sem médico de família, longas listas de espera para cirurgias e o caos nas urgências. Mas também com a falta de professores nas escolas; a redução de subsídios a pessoas com deficiência; o “aumento da pobreza” e a “trajetória da economia, divergente com a da média europeia”.
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O primeiro-ministro rejeitou todas estas críticas, optando antes por falar numa “trajetória de melhoria de rendimentos” (salários, pensões e apoios sociais), desde que tomou posse com uma maioria absoluta – que considerou ter “os canais de diálogo abertos”. Costa distanciou-se ainda dos “casos e casinhos” que a oposição trouxe para o debate, argumentando com um “Governo de políticas estáveis” .
Votação:
A favor: IL e Chega;
Contra: PS, PCP e Livre
Abstenção: PSD, BE e PAN
“Um Governo avalia-se pela composição ou pelos resultados?”, deixou a pergunta ao hemiciclo, desvalorizando a saída de 11 membros do Executivo em apenas nove meses.
Por outro lado, Costa aproveitou a polifonia de vozes à direita para defender que não haveria outra hipótese de Governo para Portugal, uma vez que “nem sequer na censura ao Governo a direita se consegue entender”.
Apesar de estarem de acordo com os motivos da IL, os socias democratas optaram por se demarcar da moção de censura, abstendo-se. “Sabemos que ambos censuramos o Governo, mas o PSD acha que não é tempo de haver as terceiras eleições em três anos”, indicou o deputado social democrata João Moura.
“É tempo de o Governo regressar ao país real” e “se não conseguir terá de arcar com as consequências”, continuou, acrescentando que o “PSD não é um partido de protesto, é um partido que quer ser Governo – e um partido com responsabilidade não pede eleições de ano a ano”.
Esta foi a 33.ª moção de censura apresentada no Parlamento. Até hoje, apenas uma teve como efeito a queda de um Governo: a do PRD contra o primeiro Governo de Cavaco Silva (abril 1987), que acabou por beneficiar o então primeiro-ministro que viria assim a conquistar, a seguir, a sua primeira de duas maiorias absolutas.