É uma reação que surge menos de 12 horas após Sérgio Figueiredo anunciar que está de saída do Ministério das Finanças, onde se encontrava a trabalhar há quase um mês como consultor. Fernando Medina fez saber, esta quarta-feira, o quanto lamenta “profundamente” a decisão do ex-administrador da Fundação EDP e antigo diretor de informação da TVI, mas que percebe o que esteve a sua origem.
“Lamento profundamente a decisão anunciada por Sérgio Figueiredo, mas compreendo muito bem as razões que a motivaram”, admitiu o ministro das Finanças, num declaração enviada às redações, a meio desta manhã, na qual defende a contratação que foi conhecida há cerca de uma semana e que tanto celeuma originou. Sérgio Figueiredo fora contratado, por ajuste direto, como consultor estratégico para analisar o efeito das políticas públicas.
“Considero que a melhoria da qualidade da decisão através do contacto regular e informado com os principais agentes económicos e sociais do país é uma necessidade específica do Ministério das Finanças, que acrescenta às avaliações já desenvolvidas por outros organismos públicos”, frisa Medina.
Segundo o governante, “Sérgio Figueiredo reúne excelentes condições para desempenhar tais funções”, fazendo uma defesa do currículo do ex-jornalista, considerando-o mais do que apto para o cargo que muitos apontaram ter sido criado à medida. “Lamento pois não poder contar com o valioso contributo de Sérgio Figueiredo ao serviço do interesse público”, conclui o ministro.
“Para mim chega”, atira Figueiredo na saída
Sérgio Figueiredo anunciou a rescisão do contrato ao inicio da madrugada desta quarta-feira, num artigo publicado no Jornal de Negócios, diário económico do grupo Cofina do que qual chegou a ser diretor também. No texto, que começa com um “desisto”, alega que “ficou insuportável tanta agressividade e tamanha afronta, tantos insultos e insinuações” desde que foi conhecida a sua contratação.
O ex-diretor da TVI alude a “assassínios de caráter”, levado a cabo pelos críticos de tal ajuste direto feito por Medina, que atingiram “um raro nível de ataques raivosos e agressões verbais”. “Para mim chega! Sou a partir deste momento o ex-futuro consultor do ministro das Finanças”, anunciou.
Na extensa carta, Sérgio Figueiredo argumenta ainda que não chegou “a receber um cêntimo” pelas funções que já estava a desempenhar no ministério, visto que não chegou a assinar o contrato, e rejeita a ideia de que iria auferir um salário mais elevado que o do próprio ministro.
Segundo uma minuta publicada pela tutela, o contrato previa um pagamento total ao antigo jornalista de 139 990 euros brutos distribuídos por dois anos. Ou seja, 5 832 euros mensais. Valor este superior aos 4 767 euros do salário de Fernando Medina. O que Figueiredo desmente: “o valor da minha avença era cerca de 77% daquilo que o Estado paga ao ministro que gere as suas Finanças”. Isto porque, continua, os governantes têm “naturalmente direito a subsídios e despesas de representação permanentes. Algo que um consultor externo não tem”, considerando também que o problema reside nos salários baixos dos ministros.
Desmente ainda qualquer troca de favores, recordando que Medina manteve durante anos espaços de opinião noutros órgãos de comunicação social, e defende que tinha capacidade para fazer o trabalho para o qual havia sido contratado, por conhecer bem o “funcionamento daquele Ministério sem nunca lá ter trabalhado”, tendo convivido “de perto com todos os ministros que por lá passaram”.