“Existe evidente falta de um espaço físico maior tanto para os profissionais que todos os dias lá fazem milagres, como para os pais que vivem momentos de angústia e para os filhos que são crianças que vivem com doenças que requerem uma especial atenção. Afinal estamos a falar do coração, do nosso coração, do coração do vosso filho ou do coração do filho do vosso vizinho”. É desta forma que utentes do Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, justificam um pedido de assinatura aos cidadãos numa petição que reivindica a prometida ala de cardiologia pediátrica. Petição esta que já reuniu o apoio suficiente para ser debatida numa comissão parlamentar e que se aproxima do número de assinaturas necessárias para ser levada a um Plenário.
Há mais de dois anos que a obra está prometida, com três quartos da mesma assegurados pela Câmara Municipal de Oeiras. Mesmo assim, a construção só avança quando o ministério das Finanças der o seu aval, para o qual ainda não há data prevista.
Em dezembro do ano passado, questionado pela VISÃO, o gabinete do então ministro das Finanças, João Leão, remetia a decisão para “breve” e o da Saúde avançava com o ano de 2023 para a inauguração do edifício. Mas, como admite agora o gabinete de Fernando Medina, “foi necessário reabrir o processo e recalendarizar a sua execução”, uma vez que o processo anterior, que “previa a execução de parte dos valores ainda em 2021”, não foi concretizado a tempo.
“A nova recalendarização, que prevê a execução de verbas a iniciar em 2022, está neste momento em análise no ministério das Finanças”, continua a tutela, em resposta à VISÃO, não se comprometendo no entanto com uma data.
Autarquia de Oeiras disponibilizou 5 milhões para a obra dos quase 7 milhões necessários
Enquanto isso, pais de doentes seguidos em Santa Cruz não quiseram ficar de braços cruzados, devido à urgência das necessidades relatadas em dezembro à VISÃO por vários médicos e enfermeiros. O diretor do Serviço de Cardiologia Pediátrica do Santa Cruz, Rui Anjos, descrevia então falta de camas (“na minha unidade, existem oito camas, quando precisamos de pelo menos 14; há grandes dificuldades com as vagas e não existe lugar para deitar as mães das crianças à noite; muitos quartos também não têm casa de banho”); e enfermeiros denunciavam a ausência de salas para fazer colheitas de sangue, por exemplo.
Avançaram, por isso, com uma petição, disponível online, para pressionar o ministério de Fernando Medina a dar a autorização que desbloqueará a obra que até já tem projeto e grande parte do financiamento assegurado – o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, disponibilizou cinco milhões de euros dos quase sete milhões, estimados pelo Ministério da Saúde para realizar a intervenção.
Até ao momento, a petição reúne 6093 assinaturas. Recorde-se de que são necessárias pelo menos dez mil para que uma petição seja discutida em Plenário na Assembleia da República. No entanto, a partir das quatro mil assinaturas – já atingidas – o assunto tem de ser debatido na comissão parlamentar competente.
A nova pediatria que tarda
Foi a 18 de novembro de 2019 que Isaltino Morais e a ministra da Saúde, Marta Temido, assinaram um acordo com a promessa de recuperação e ampliação das unidades que acolhem os centros de referência de Cardiopatias Congénitas (onde se inclui a Pediatria), Transplante Cardíaco e Transplante Renal, integrados no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental. Todavia, só a 27 de julho de 2021, a obra recebeu luz verde do ministério da Saúde, passando o dossier para as Finanças.
A grande valência do novo Serviço de Pediatria deverá ser a dimensão do espaço com dois pisos e possibilidade de expansão. O edifício autónomo, ligado por um túnel ao central, será construído atrás do principal, no terreno onde agora está um pré-fabricado em que funciona a farmácia – serviço que também passará para a nova construção. O plano provisório prevê ainda que o novo edifício contenha um serviço geral de cuidados intensivos e uma sala de cirurgia de ambulatório.