António Costa prometeu não se deslumbrar com a maioria absoluta conquistada em janeiro, após uma crise política em que a proposta do Orçamento do Estado de 2022 acabou chumbada pelos anteriores companheiros da Gerigonça. Mas, se o primeiro-ministro parece ter desculpado os bloquistas e os comunistas, que perderam peso parlamentar, os gestos do líder socialista, assim como do seu longo braço no Parlamento, a ministra-adjunta, Ana Catarina Mendes, apontam para uma outra realidade, quando está a arrancar a discussão e a votação das 1 500 propostas de alteração ao documento.
Onde outrora se sentaram os representantes de BE, PCP e PEV, para negociar uma luz verde para os sete orçamentos, desde 2016, desta vez os lugares foram aquecidos por um outro trio, a convite dos socialistas, composto pela Iniciativa Liberal, pelo PAN e ainda pelo Livre. Traduzindo: Costa garantiu, na noite 30 de janeiro, que “uma maioria absoluta não é poder absoluto, não é governar sozinho”; só que também não explicou com quem iria dançar. São, estes, afinal, os ares dos novos tempos, a que até o PSD/Madeira se quis juntar, para uma nova surpresa da ainda liderança de Rui Rio – como aconteceu em outubro de 2021.