“Já que passa a tê-lo tão perto de si, aproveite plenamente as suas capacidades. Vai surpreendê-lo. O seu contributo foi muito valioso para mim.” Esta foi a mensagem de recomendação que António Costa recebeu do eurodeputado Pedro Silva Pereira, sobre a entrada de Tiago Antunes no Executivo socialista, em julho de 2017, na senda de uma das primeiras remodelações governamentais. O líder socialista terá tido em boa conta tal recado, já que, após dois anos em que aquele professor auxiliar da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa coordenou na Presidência do Conselho de Ministros toda a legislação produzida pelas várias tutelas ministeriais no primeiro governo da Geringonça, o levou para o seu gabinete com as legislativas de 2019. Agora, com uma União Europeia mais concertada do que nunca, devido à guerra na Ucrânia, o primeiro-ministro deu-lhe a Secretaria de Estado dos Assuntos Europeus, mas manteve-o sob a sua alçada – no que foi entendido como um sinal de que o futuro político de Costa passará, mais cedo ou mais tarde, por Bruxelas.
Tiago Antunes, de 43 anos, regressa, assim, ao palco europeu, no qual se moveu durante cerca de um ano e meio, enquanto foi assistente do gabinete de Silva Pereira. Entre aqueles com quem trabalhou e os amigos mais próximos, ninguém se mostra surpreendido com o caminho percorrido por alguém que, além de adorar ver peças de teatro, tem experiência na área da representação. “Tem o grande talento de se transfigurar numa personagem e de se distanciar da sua imagem mais reservada”, admite Mariana Vieira da Silva, a ministra da Presidência que conhece o governante vai para duas décadas e de quem é muito próxima. Mais: a par da enorme sensibilidade política e da capacidade técnica que lhe apontam, há quem considere o especialista em Direito Ambiental, Administrativo e Constitucional preparado para assumir outros altos voos. Até lá, este alfacinha de Benfica terá como principais metas aproveitar o trabalho da sua antecessora, Ana Paula Zacarias, que muito se destacou durante a presidência portuguesa do Conselho Europeu, em 2021, e marcar o ritmo da transposição de diretivas comunitárias para o regime jurídico português, que nem sempre tem sido o mais célere.