No momento em que se sentar na sua cadeira de ministro das Finanças, esta quinta-feira, no seu primeiro dia de trabalho após a tomada de posse, Fernando Medina terá vários lembretes deixados em herança pelo seu antecessor, João Leão. O ex-autarca de Lisboa é um dos pesos-pesados do terceiro Governo de António Costa que, por estes dias de incerteza, com uma guerra na Europa e a União Europeia empenhada em duras sanções à Rússia, passa a reunir, frequentemente, como se fosse um verdadeiro “gabinete de guerra”. Nesta mesma semana, João Leão apresentou uma espécie de “caderno de encargos” que, antes de ter saído do Governo, deixou ao seu sucessor. O desafio é o de manter as contas certas, reduzindo a despesa pública em 237 milhões de euros. João Leão deixa, também, uma confortável almofada financeira, por ter conseguido que o défice registado no ano passado tenha ficado muito aquém do previsto. E mesmo com um crescimento inferior, Leão prevê que a taxa de desemprego continue a desacelerar. Fernando Medina aposta, para já, na continuidade. No seu último programa de comentário, na CNN Portugal, o ministro contrariou todas as previsões que davam como certo o cesto dos papéis como destino provável do Orçamento chumbado em outubro passado. Afinal, o documento que António Costa tão exuberantemente exibiu, em debates para as legislativas, é, para Fernando Medina, uma espécie de Evangelho.
O “gabinete de guerra” de Costa antecipa que, face à inflação, os aumentos salariais serão o tema quente da frente interna
Assim, o Governo mantém o desdobramento dos terceiro e sexto escalões do IRS, permitindo que mais de um milhão de famílias paguem menos. Mas a VISÃO sabe que esse não é o único item que Medina recuperará: as medidas de combate à pobreza infantil, o aumento de pensões e outros apoios sociais previstos no documento anterior serão recuperados no novo Orçamento do Estado. A maior dificuldade prende-se com a inflação, que o Governo fixa em 2,9%, muito abaixo das previsões de todas as outras entidades, do Banco de Portugal ao Conselho das Finanças Públicas, mas, ainda assim, muito superior à atualização dos salários da Função Pública, fixados nos 0,9%. O “gabinete de guerra” de Costa antecipa que este será o tema mais quente, na frente interna, o que também pesou na transferência da tutela da Administração Pública para as mãos da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva.